Dois destinos russos na arte

Pessoas com focinhos de porco, crânios, demônios e imagens em preto e branco de Vladímir Visótski, autor de canções sem as quais seria impossível imaginar a vida de toda uma geração – todas essas coisas "observam" com olhos penetrantes os visitantes do Museu Púchkin, em Moscou, desde 8 de novembro. Esses objetos e imagens fazem parte de uma exposição de Mikhail Chemiákin, inaugurada recentemente e programada para coincidir com a publicação do livro “Chemiákin. Visótski. Dois destinos”.

Alguns dos trabalhos de Chemiákin:


Na escultura: "Cibele", em bronze (até outubro de 2006 situava-se na Prince Street, no Soho, Nova York) "Casanova" (Veneza) "Piotr I” (Na Fortaleza de Pedro e Paulo, em São Petersburgo)

No teatro: O balé "O Quebra-Nozes", no Teatro Mariinsky. Chemiakin foi autor dos esboços, das fantasias, das máscaras e dos cenários.

Na animação: Desde 2001 ele vem trabalhando no estúdio Soiuzmultfilm para criar a animação longa-metragem de marionetes “Hofmaniada”.

As 42 ilustrações e a capa do livro – assim como as muitas fotografias – estão expostas na mostra. Vladímir Visótski viveu 42 anos e era amigo do pintor e escultor Mikhail Chemiákin. Na França, Visótski logo ficou conhecido como o marido da atriz Marina Vladi, e depois como cantor e ator.

Especialistas tendem a fazerparalelos entre os trabalhos de Chemiákin e Dali, talvez entre Goya e suas gravuras, mas para o próprio autor o mais importante era transmitir a sua interpretação das canções de Visótski. "Afinal, muitas coisas foram escritas sobre as nossas alegrias e tristezas juntos, sobre coisas que eram compreensíveis apenas para nós", esclarece o artista.

Marina Vladi escreveu sobre Chemiákin e Visótski em seu livro “Vladímir, ou O Voo Interrompido”: "Eu não entendia sempre a amizade dos dois e o que os unia além do talento e a paixão pela bebida". Chemiakin explica: "Todo mundo tem seu anjo e seu demônio. Nós tivemos um demônio em comum – nossas farras. Mas também havia algo iluminado: os nossos trabalhos".

As interpretações de canções famosas de Visótski, propostas por Chemiákin, têm base nas memórias preservadas do artista em conversas com o amigo. Na ilustração para a canção "Ao longo do penhasco", por exemplo, o autor tenta mostrar o que foi esse penhasco para ambos. O desfiladeiro de Chemiakin, de acordo com Vladímir Visótski, é o longo corredor do apartamento, pelo qual levaram o artista para o interrogatório ou a detenção. E para Visótski o penhasco era uma cena, uma palavra mais supérflua, e para além de seus limites – o campo.

Chemiákin explica o nome de seu livro - “Dois destinos”: Ele estava se referindo ao destino do poeta e o do país em que ele viveu.

Chemiákin mora e trabalha há muitos anos na França, justamente para onde foi em 1971 depois de ser expulso da União Soviética. Em sua casa, no Château de Chamousseau, ele conseguiu reunir uma coleção única de obras de assuntos variados na arte. Assim, um dos muitos temas emocionantes de Chemiákin é o nariz. De acordo com o colecionador, o nariz pode ser orgulhoso, arrebitado e insolente, charmoso, ou até mesmo pode possuir características humanas: ser majestoso, régio ou modesto. Todas as variedades de nariz aparecem na coleção de gravuras, fotografias, obras históricas e literárias de Chemiákin.

Biografia 


Mikhail Chemiakin nasceu em 1943 em Moscou. Passou grande parte de sua infância na Alemanha Oriental ocupada, e em seguida na República Democrática da Alemanha.

Em 1957, ele voltou para a URSS e em Leningrado foi aceito na escola de artes, o Instituto de Pintura, Escultura e Arquitetura I. E. Répin.

Em 1961, foi expulso por "corrupção da estética" de colegas de classe.
Durante três anos ele foi submetido a tratamento compulsório em um hospital psiquiátrico. Exposições com sua participação foram encerradas.

Em 1971, Chemiakin foi expulso da URSS. No começo, ele viveu em Paris e em 1981 mudou-se para os Estados Unidos (Nova York).

Ele foi autorizado a voltar à União Soviética somente em 1989.

Em 2007, Chemiakin retornou à França, em Châteauroux.
Periodicamente trabalha em São Petersburgo.


Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies