Empesas de petróleo russas investem em petróleo brasileiro

Foi assinado o acordo entre a TNK-BP e a brasileira HRT O & G  Foto: Assessoria de imprensa do TNK

Foi assinado o acordo entre a TNK-BP e a brasileira HRT O & G Foto: Assessoria de imprensa do TNK

Os primeiros investimentos russos chegaram ao setor de petróleo brasileiro. A terceira maior empresa petrolífera da Rússia, a TNK-BP, comprou da companhia brasileira HRT O&G uma fatia de 45% dos direitos de concessão sobre 21 blocos da Bacia do Solimões por US$ 1 bilhão.

O acordo entre a TNK-BP e a brasileira HRT O & G foi assinado dois anos depois que uma equipe de servidores públicos brasileiros realizou em Moscou uma apresentação abrangente do potencial de investimento do setor de commodities e energia do Brasil. A primeira empresa russa a expressar seu interesse pelos recursos energéticos do Brasil foi a estatal Gazprom. A chance de concluir o primeiro grande negócio, porém, coube a uma empresa privada de propriedade da britânica BP e do consórcio russo AAR. O acordo foi fechado no dia 31 de outubro por sua subsidiária brasileira, a TNK-Brasil.

O acordo firmado pela TNK-Brasil fecha a transação entre a TNK-BP e a Petra Energia sobre a aquisição de 45% dos direitos exploratórios do petróleo.

Segundo o vice-presidente para os projetos internacionais e prospeção geológica da TNK-BP, Christopher Inchcomb, a HRT permanecerá como operadora do projeto, tendo a TNK-BP a possibilidade de participar, em condições de igualdade, de decisões sobre as atividades conjuntas no âmbito do projeto e colocar seus especialistas em cargos estratégicos.    

Leia mais:

- Empresa russo—britânica compra participação em projeto de petróleo brasileiro

Segundo o setor de comunicação do consórcio russo, dentro de 30 meses a empresa russo-britânica poderá aumentar sua fatia em 10% se houver aprovação das autoridades reguladoras do Brasil. O valor será determinado por bancos de investimento.

A fatia de 45% vai custar à TNK-BP US$ 1 bilhão, que será pago em partes. O analista da companhia de investimentos russa Metropol, Serguêi Vakhraméev, entrevistado pela Rússia Hoy, não acha esse preço muito alto, dadas as reservas de gás e petróleo do projeto. “É claro que comprar recursos energéticos na Rússia é mais barato, mas lá a carga tributária é muito grande, enquanto no Brasil ela é menor”, afirma o analista.

Para a TNK-BP, o valor do negócio é moderado. Seu fluxo de caixa operacional em nove meses de 2011 foi de US$ 8 bilhões, enquanto seu fluxo de caixa livre atingiu, no mesmo período, US$ 4,5 bilhões. Mesmo que os investimentos anuais no projeto (sem contar com o preço de compra) cheguem a US$ 700 milhões (metade do custo total de capital distribuído em parcelas iguais ao longo de 10 anos), os fundos disponíveis serão mais que suficientes para financiá-los, afirma o analista do banco nacional Trust, Péter Makárov.

Enquanto isso, os representantes da TNK-BP se mostram contidos ao comentar as perspectivas do projeto conjunto. Christopher Inchcomb qualifica o projeto como sendo de grande escala mas considera prematuro falar definitivamente sobre o investimento. “Ambas as empresas irão reembolsar as despesas de capital de acordo com suas fatias no projeto. Agora só podemos dizer que, segundo estimativas preliminares, as despesas da TNK-BP com o investimento de capital poderão chegar a US$ 4 bilhões”, frisou.

De acordo com o analista do fundo de investimento Capital Vitáli Kriúkov, citado pelo jornal russo “RBK-Daily”, se as reservas de recursos prospectadas nos blocos forem reais, elas poderão garantir à TNK-BP um valor presente do barril maior do que na Rússia. O analista supõe que o principal fator que pesou no cálculo do preço da fatia de 45% da TNK-BP foram as reservas de petróleo. “Ao mesmo tempo, as reservas de gás, que representam cerca de 70%, sofreram um desconto significativo, já que se mantêm as dúvidas sobre sua viabilidade comercial e as perspectivas de sua venda”, concluiu Vitáli Kriúkov.

O início da exploração das jazidas da Bacia do Solimões está previsto para 2012.  O acordo assinado pela TNK-BP se refere às atividades de E&P (exploração e produção de petróleo) e não prevê a construção de quaisquer condutas tubulares nem o processamento de  hidrocarbonetos nas instalações da empresa. Por outro lado, Christopher Inchcomb não exclui a possibilidade de a empresa decidir, futuramente, sobre a construção de condutas tubulares, dizendo que essa decisão vai depender do potencial exploratório das jazidas de gás no âmbito do projeto. Atualmente, a empresa não tem tal intenção nem pretende vender no mercado brasileiro o combustível sob sua marca internacional, a “TNK”.  “É provável que a maior parte do petróleo leve obtido no âmbito do projeto russo-brasileiro seja encaminhado às empresas brasileiras e substitua as matérias-primas atualmente importadas da Nigéria e do Oriente Médio”, disse à Rússia Hoy Christopher Inchcomb

“Esse projeto marca a entrada da TNK-BP no mercado brasileiro. A empresa procurará reforçar sua posição aqui e ampliar sua presença na região. Seja como for, pretendemos concentrar nossos esforços para garantir um desenvolvimento bem-sucedido do projeto Solimões juntamente com a HRT”, salientou o representante da empresa, que deverá instalar um escritório no Brasil.

Uma auditoria realizada pela Degolyer&MacNaughton mostrou que o projeto proporcionará à TNK-BP reservas equivalentes a 789 milhões de barris de óleo. O total das reservas provadas da companhia russo-britânica equivalia, no dia 31 de dezembro de 2010, a 8,794 bilhões de barris de óleo, de acordo com o método de medição da Comissão de Títulos e Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês), sem contar com o período de validade da licença. A compra brasileira pode aumentar as reservas em cerca de 9%.
Até o ano passado, a TNK-BP não tinha ativos no exterior, mas depois de um acidente no Golfo do México em abril de 2010 a empresa russo-britânica recebeu da empresa-mãe, a BP, projetos no Vietnã e na Venezuela.

Hoje, a TNK-BP participa na Venezuela de quatro joint-ventures com a empresa de petróleo pública PDVSA (PetroMonagas, PetroPerija, Boquerón e PetroMiranda). A alta gerência da empresa procura torná-la um ator global para que uma parte significativa de seu volume de negócios se situe em mercados externos, dizem especialistas. O responsável contatado pela Rússia Hoy não esconde que a empresa encara projetos no Brasil e na Venezuela como base para sua expansão na América Latina. “A empresa vê a América Latina e o Sudeste Asiático como mercados promissores onde pode desenvolver dinamicamente seu negócio”, esclareceu Christopher Inchcomb.

A TNK-BP detém cerca de 16% da produção de petróleo na Rússia e uma participação de cerca de 50% na companhia de petróleo e de gás russa Slavneft. Em termos de produção diária, a empresa pode ser equiparada à maior empresa de petróleo brasileira Petrobras: em 2010, a empresa produziu (sem contar com sua participação na Slavneft) 1,74 milhão de barris de óleo por dia. 

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies