Jogos eletrônicos: incentivadores da cultura e do turismo (II)

Imagem do  jogo eletrônico “Metrô 2033”: Buscando recursos no exterior

Imagem do jogo eletrônico “Metrô 2033”: Buscando recursos no exterior

Na primeira parte do artigo havíamos falado sobre o passado dos videogames na Rússia e sobre o passado da Rússia nos videogames. Além disso, vimos que aqueles títulos ambientados em cenários reais, que nos dão a possibilidade de viajar para onde bem quisermos, nos transformam em turistas virtuais e aumentam nossa vontade de ter uma experiência real nesses lugares.

Nos últimos anos, os jogos eletrônicos fantasiosos, nos quais devemos sobreviver às consequências de um acontecimento apocalítico, conquistaram muitas pessoas. Vimos também os exemplos dos Estados Unidos por meio da saga de “Fallout”, mas, assim como dito no fim da primeira parte deste artigo, a Rússia e a Ucrânia têm suas próprias versões desses jogos, baseados em obras-primas da literatura russa.

O “S.T.A.L.K.E.R.” (2007) é ambientado em Tchernobil após uma suposta segunda explosão da usina de energia nuclear. Depois de acordar sem sequer lembrar sua identidade, nosso personagem inicia um grande desafio para recordar seu passado e sobreviver em um ambiente hostil, que o levará a visitar os locais mais representativos, tais como a cidade-fantasma de Pripyat e a própria usina nuclear.  

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Mas o incidente de Tchernobil é um mero elemento que dá origem à história, pois o nome do jogo vem diretamente de “Stalker”, um filme de ficção científica de 1979 dirigido pelo russo Andrêi Tarkóvski. Esse filme é uma adaptação do romance chamado “Piquenique à margem da estrada”, escrito pelos irmãos Arkádi e Boris Strigatski. O videogame está cheio de referências diretas tanto à obra impressa quanto à sua adaptação cinematográfica.

Fora isso, a dublagem de “S.T.A.L.K.E.R.” para outras línguas manteve os diálogos em russo dos personagens com os quais os jogadores não mantêm uma conversa direta. Essa decisão foi interpretada como mais uma forma de recriar a atmosfera na qual se passa a história. Tal foi o sucesso desse título que foram produzidas duas continuações, e a segunda parte da saga já está sendo desenvolvida.

 

“S.T.A.L.K.E.R.”: Vista de Prípiat (Chernobil)

“Metro 2033” (2010) foi um dos jogos mais esperados pelo público, com o atrativo adicional de usar o título e recriar a história da grandiosa obra do escritor russo Dmítri Glukhóvski. A ação se passa na cidade de Moscou, então devastada por uma guerra nuclear, onde a humanidade sobrevivente é composta por pessoas que no momento do incidente se encontravam em algum ponto da vasta rede de túneis do metrô da cidade. A vida humana é simplesmente impossível na área exterior sem uma proteção contra a radiação e armamento para se defender das criaturas mutantes. Como se não fosse o bastante, os recursos obtidos na faixa de acesso do metrô foram paulatinamente desaparecendo. Portanto, o novo lugar da humanidade é o subsolo, onde cada estação habitada constituiu uma unidade semelhante às polis gregas, sobrevivendo graças ao cultivo de uma variedade de fungos, a pequenas caças e ao comércio com outras estações, estabelecendo alianças que se estendem por linhas inteiras.

Tanto o livro como o jogo são um pretexto perfeito para percorrer Moscou tanto por debaixo da terra como no solo, já que em vários momentos o jogador deve emergir, seja para cumprir alguma missão, obter recursos (a munição se transformou em moeda na rede do metrô) ou atingir alguma linha cujo acesso esteja descoberto por causa de uma bomba.

O fenômeno “metrô-mania” angariou tantos seguidores que foram organizadas excursões noturnas debaixo da terra, com decoração e vestuário pertencentes à saga, que já tem continuação (“Metro 2034”).

 A utilização da oitava arte para atrair interessados na cultura russa e turistas está apenas começando. A Rússia está se guiando pelo exemplo do Tetris (cujas novas edições continuam sendo bem-sucedidas) e está demonstrando que não dormiu sobre os louros. 

Um bom exemplo é a saga “Star Wolves”, lançada em 2004 pelos russos X-Bow Software e distribuída pela também russa 1C Company.

As três edições (até agora) de “Star Wolves” se desenrolam no espaço, num futuro em que a humanidade se espalhou por todo o universo. As grandes corporações são as novas detentoras do poder, promovendo guerras sangrentas pelo controle de sistemas inteiros onde possam instalar suas fábricas e realizar comércio e os jogadores são um pequeno grão de areia nesse imenso arsenal.   

Nesse cenário, o jogador tem o controle de uma nave-mãe, com a qual viaja à vontade entre os sistemas e vai se aperfeiçoando à medida que o jogo avança. Ao longo do caminho, também tem a chance de ir recrutando pilotos com personalidades e habilidades muito diferentes, com os quais pode realizar diversas missões. As decisões feitas pelo jogador, que vão desde aplicar tecnologia alienígena em algum dos caças de seus pilotos até passar mercadorias de contrabando, rompendo o embargo imposto sobre uma estação de mineração, repercutem não só no quadrante em particular mas em toda a humanidade.

Durante os combates espaciais, o jogador deve pensar de forma global, mas às vezes também precisa prestar atenção a detalhes diversos, tais como as habilidades de cada piloto, características de seu caça e proximidade com a nave-mãe. Conforme progride, o jogador implementa estratégias cada vez mais complexas e bem-sucedidas, enquanto adentra uma trama com inúmeras referências aos grandes nomes da ficção científica russa.

 

“Star Wolves 3”: No meio do combate.

Graças a jogos como “Star Wolves”, treinamos nosso cérebro para que divida sua capacidade de cálculo entre diversas tarefas simultâneas e independentes. À medida que conseguimos destinar tempo indispensável da nossa atenção a cada uma delas, adquirimos uma verdadeira habilidade em lidar com processos paralelos.

Em suma, pode-se afirmar que a Rússia soube utilizar a oitava arte para difundir sua cultura e história. O país conseguiu se adaptar aos tempos, escolhendo os canais apropriados para despertar a curiosidade de potenciais turistas que não só se contentarão com uma visita virtual aos lugares propostos, mas também vão propiciar novas situações que resultarão em novos postos de trabalho.

 

Soldado espacial (“Warhammer 40K” e/ou “StarCraft”) no centro de Moscou.

Mais importante ainda, a Rússia também pensa no futuro em relação ao desenvolvimento de produtos de uma indústria que está em ascensão. Uma indústria na qual o consumidor final se recusa a assumir uma posição passiva diante dos fatos narrados.

Mais informações:

S.T.A.L.K.E.R – Comparação entre a verdadeira Pripyat e a cidade representada no jogo

Trailer de lançamento do Metro 2033

Star Wolves 3 – Batalha do jogo em HD

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