Há arte urbana aos pés dos montes Urais

Perm é um excelente exemplo de como a vida cultural em uma cidade interiorana na Rússia pode prosperar sem qualquer ajuda do governo federal.

Foto:Daria Gonsales 

Mais do que Moscou ou São Petersburgo, os centros regionais carregam os estereótipos de terem uma vida cultural dominada por bonecas ou danças folclóricas. No entanto, em Perm, a situação é bem diferente: as lendárias matrioshkas só podem ser vistas em instalações de vídeo em uma fábrica de cigarros reestruturada, e, nas paredes desgastadas de antigas oficinas, estão expostos trabalhos de artistas modernos de regiões como Tver, São Petersburgo e Níjni Nóvgorod.

Esse projeto faz parte do festival Noites Brancas de Perm. O evento transformou a cidade inteira em uma galeria de arte. Próximo ao salão da filarmônica, encontra-se homens vermelhos gigantes montados em motocicletas – na verdade, são esculturas em madeira produzidas por um grupo de São Petersburgo. Em frente à livraria Górki, há uma maçã de três metros de diâmetro, revestida de um lado por azulejos de cerâmica e, do outro, por tijolos. Existem construções abstratas feitas com mato em quase todos os jardins públicos e nos diques ao longo do rio Kama.

A principal atração dessa arte popular de rua, porém, talvez seja as cercas. Grafiteiros de todos os lugares do mundo criaram trabalhos nas cercas ao redor dos locais de construção e nas colunas que sustentam os viadutos, transformando monótonas áreas industriais em espaços de arte urbana. “A área total de muros cobertos com ilustrações chega a aproximadamente 200 quilômetros quadrados”, disse Serguei Arseniev, criador do projeto de arte popular.

“Convidamos artistas do México, da Argentina e até mesmo de Nova York. Cada um deles fez ilustrações seguindo o estilo do seu país. É preciso, além de ter muita aptidão, ser corajoso para levar sua criação às ruas. Qualquer um consegue exibir seu trabalho em uma galeria, onde se tem condições ideais: a presença de paredes brancas como contraste, por exemplo, torna qualquer obra espetacular. O difícil é compor uma imagem que se adeque a uma paisagem de rua”, conta.

As Noites Brancas de Perm duram 26 dias e não há uma data sequer no calendário em que uma atração diferente não seja apresentada. O festival inclui a presença de músicos, dançarinos e exposições de artistas visuais. O cantor alemão Pascal Wroblewski e a orquestra Musica Aeterna de Bratislava se juntam a Theodor Currentzis, diretor artístico do Teatro de Ópera e Balé de Perm, na programação musical. As apresentações das Noites Brancas atraem multidões, mas a maioria dos frequentadores é de visitantes e não de moradores da própria região. Esse fato, porém, não incomoda aos organizadores do festival.

“Pessoas que não estão interessadas em nada existem em qualquer lugar e são sempre a maioria”, afirmou Boris Milgram, vice-presidente do governo de Perm. “Nosso trabalho, nesse caso, é criar um novo hábito e dar oportunidades à população para que ela possa decidir por conta própria o que quer assistir e de que deseja participar. O principal é ter a oportunidade de escolher, e isso, por sua vez, vai gerar interesse. Não se pode conseguir tudo numa tacada só”, disse.

O exemplo de Perm não pode ser considerado comum na Rússia. Os organizadores de eventos em outras cidades menores geralmente enfrentam a resistência das administrações regionais, que preferem destinar áreas à construção de centros comerciais em vez de promover a criação de galerias de arte. Lá, entretanto, as autoridades locais decidiram transformar toda a cidade, sem poupar despesas: para se ter ideia, 172 milhões de rublos (US$ 6 milhões) foram gastos neste ano na organização das Noites Brancas.

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