Medvedev ou Pútin. Quem é o candidato?

Com personalidades distintas, Medvedev (o moderno) e Pútin (o tradicional) podem atrair eleitores de perfis distintos/Foto:Reuters/Vostock-photo

Com personalidades distintas, Medvedev (o moderno) e Pútin (o tradicional) podem atrair eleitores de perfis distintos/Foto:Reuters/Vostock-photo

Enquanto outros partidos têm participação quase nula nas eleições, divergências recentes de Medvedev e Pútin dão indícios de que a campanha já começou.

Pouco a pouco, as eleições de 2011-2012 na Rússia entram na pauta do dia. Nas últimas semanas, tanto o presidente Dmítri Medvedev quanto o primeiro-ministro Vladímir Pútin fizeram aparições públicas que foram descritas por observadores políticos como os primeiros indícios da campanha eleitoral.

No início de maio, durante um congresso do partido governista Rússia Unida, Pútin anunciou a criação da Frente Popular da Rússia. Composta por uniões de comércio, associações empresariais, grupos juvenis e organizações não-governamentais – porém partidárias do Kremlin –, a organização tem o objetivo de aumentar a popularidade do partido, ampliando seu contato com a população.

Logo após o anúncio do primeiro-ministro, Medvedev deu aos observadores motivos para acreditar em uma discórdia entre liberais e burocratas. “Entendo os motivos de um partido que queira manter sua influência sobre a nação”, disse, recusando-se a apoiar a ideia.

Medvedev também sugeriu que seu partido Rússia Unida não deve contar com uma vitória esmagadora em dezembro nas eleições da Duma (a câmara dos deputados da Rússia). “Nenhuma força política pode se considerar dominante. Pelo contrário, todas devem se esforçar para serem bem-sucedidas”, disse.

Entrevista

Medvedev concedeu sua primeira grande entrevista coletiva à imprensa em três anos de governo no dia 18 de maio, em Skôlkovo – a cidade nos arredores de Moscou apelidada de “Vale do Silício russo” devido aos recentes projetos de inovação ali engendrados pelo presidente.

Mais de 800 jornalistas compareceram ao evento, levantando questões que variaram da modernização econômica às eleições governamentais. Suas respostas foram no geral previsíveis, mas ele mostrou estar confortável e seguro.

A coletiva aconteceu depois de uma reunião com oficiais da justiça em que o presidente mais uma vez ressaltou a necessidade de reformas e do fortalecimento do sistema judiciário. Ele ainda anunciou um polêmico plano para livrar o governo e as empresas estatais de burocratas.

Distanciamento

As ações de Medvedev são vistas como um distanciamento de Pútin. Esse processo começou com críticas do presidente aos comentários do primeiro-ministro sobre as sentenças de prisão dos empresários Mikhail Khodorkóvski e Platon Lêbedev e depois ficou mais evidente nas divergências em relação à intervenção da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Líbia.

Segundo o analista Dmítri Orêchkin, o distanciamento das duas figuras é essencial para o desenvolvimento do país. “Esse é um acontecimento importante, que marca um passo de independência de Medvedev”, disse Orêchkin.  

Para aqueles que acreditam na divisão da bancada, a frente de Pútin seria sua tática para voltar à presidência. “Se eles criarem esse novo grupo, e não há motivos para pensarmos que não irão fazê-lo, então podemos dizer que Vladímir Pútin acabará nomeado por essa ‘frente popular’, isto é, por todos os russos que desejam uma vida melhor”, acredita o cientista político Grigóri Gólosov. 

Para o editor-chefe da estação de rádio Ekho-Moskvi, Aleksêi Venediktov, a criação da frente é uma afirmação da vontade política do primeiro-ministro. “Essa história nos mostra mais uma vez que Pútin certamente não recusa um terceiro mandado presidencial”, disse ele à BBC. 

Há também os que acreditam na união do partido e afirmam que as recentes declarações dão a Pútin e a Medvedev a oportunidade

de reiterar suas personalidades distintas, porém complementares.

Sob esse prisma, Medvedev seria o “modernista” e Pútin o “tradicional” – e juntos  eles poderiam atrair os votos de uma população russa cada vez mais dividida.

“Como antes, Pútin e Medvedev tendem a ocupar diferentes nichos políticos”, disse o analista independente Stanislav Belkôvski à agência de notícias Interfax. “Ambos continuam em busca de uma causa comum”, afirma.

O político de oposição Vladímir Rijkov chegou a sugerir que a iniciativa da Frente Popular tinha, na verdade, a intenção de cercar a bancada. “Ele [Pútin] está tentando minar o apoio da bancada e do ‘partido no poder’”, escreveu Rijkov em um artigo opinativo no diário russo The Moscow Times.

Para o comentarista televisivo Nikolai Svanidze, isso não significa necessariamente que Pútin irá se eleger no próximo ano. “Acredito que a bancada ainda não decidiu quem irá concorrer nas eleições presidenciais e, se essa frente for constituída, o atual presidente Dmítri Medvedev poderá usá-la também.

A nova plataforma tornará possível que ambos os candidatos declarem ter apoio de uma parcela considerável da população, não somente de um partido e de seus eleitores”, disse Svanidze ao canal estatal Russia Today.

Quem quer que sejam os candidatos à presidência da Rússia, em 2012 os políticos deverão dar mais atenção à sociedade do que nunca. De acordo com uma pesquisa de abril do Centro Levada, 75% dos russos se interessam por política. No entanto, 83% dos entrevistados acreditam que os políticos trabalham apenas em prol de seus próprios interesses, ignorando as necessidades dos eleitores.

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