Pútin e/ou Medvedev para 2012

Com a aproximação da primeira grande coletiva de imprensa em três anos de governo do presidente Dmítri Medvedev, que sempre preferiu entrevistas marcadas, ao contrário do predecessor Vladímir Pútin, os russos esperam alguma pista sobre qual dos dois será candidato à presidência em 2012 pelo partido Rússia Unida.

Caricatura: Dmítri Divin

Analistas políticos na Rússia e em todo o mundo estão se perguntando quem será a bola da vez no Kremlin em 2012. Os dois principais membros do alto escalão do governo parecem fazer de tudo para manter a tensão. Recentemente, Dmítri Medvedev declarou que “não exclui a possibilidade” de buscar um segundo mandato. E deu a entender também que tem algumas diferenças com Vladímir Pútin quanto aos rumos de desenvolvimento do país. Depois de alguns dias, respondeu também o primeiro-ministro Vladímir Pútin. Ele deixou claro, do mesmo modo, que “não exclui a possibilidade” de concorrer, e ainda acrescentou que a eleição presidencial “não precisa ser tumultuada”.

No entanto, as divergências entre Pútin e a Medvedev têm dado cada vez mais motivos para isso. Se no início do mandato presidencial de Medvedev os dois partilhavam assiduamente a mesma opinião (se um já havia emitido certa opinião, então o outro não comentava o mesmo assunto, como uma regra), agora em suas retóricas políticas apareceu sublinhada uma assimetria. Até mesmo contrastes deliberados. Mas vale notar que, pelas observações de analistas, as discrepâncias não aludem a todas as questões fundamentais e estratégicas.

Na verdade, Pútin e Medvedev estiveram em uma situação bastante complexa. A política russa é tradicionalmente relacionada à primeira pessoa (ou, neste caso, às duas primeiras pessoas). Toda infindável burocracia orienta-se não em instituições, leis e regras escritas, mas antes de tudo no chefe, em seu estilo, seus desejos, seus hábitos, seus humores, caprichos, fraquezas e opiniões fortes. Uma vez que o chefe sai ou dá a entender que está saindo, ele deixa de existir.

Desta forma, supondo que hoje Medvedev anuncie sua não-candidatura, então isso significará na prática que a Rússia ficou sem um presidente já um ano antes da eleição. Se Pútin declarar sua aposentadoria da política, na prática isso levaria ao cessar completo de toda a hierarquia da máquina do governo. Portanto, estamos falando de uma máquina que foi construída sobre princípios de centralização rígida.

Pútin e Medvedev entendem isso muito bem e aparentemente não querem correr tal risco. Além disso, cada um deles pode ter suas próprias ambições políticas e seus próprios pontos de vista do posto presidencial.

Outra coisa que não é totalmente clara é como os dois viram esta situação quando os próprios a criaram, em 2008. Como Pútin planejou o acontecimento? O que Medvedev, quis insinuar de fato, anunciando e dando a entender que não lutaria por um segundo mandato?

Não foi em vão que no início do governo de Medvedev já havia rumores de que ele renunciaria cedo para evitar um longo período de existência do “presidente indefeso”. Mas, então, para que aquela descrença de Pútin sobre a instituição da presidência, que ele mesmo tão diligentemente reforçou, e para a qual hipoteticamente pretende retornar? Ou Pútin inicialmente não supôs que se sentaria por tanto tempo na cadeira de primeiro-ministro, certificando-se de que Medvedev executaria todas as obrigações só até 2012?

Então não daria para entender essa forma de saída de um político que está cheio de energia e ainda não atingiu a velhice. É possível que o próprio cenário da “tandemocracia” (nome dado à estratégia de Pútin quando apoiou Medvedev para presidente e esse o apoiou para o cargo de primeiro-ministro) e de seu crepúsculo em 2012 não tenham sido pensados totalmente e em detalhes em 2008. Talvez a própria vida tenha trazido alterações inesperadas para tal plano. Por exemplo, não está claro se os dois políticos contavam com fatores da política moderna como a fadiga do eleitorado de qualquer regra muito longa, até mesmo das figuras políticas de maior sucesso. A mentalidade do homem moderno é construída de tal forma que ele precise de desenvolvimento progressivo, notícias todos os dias, ainda que pequenas, mas diferentes. Ele quer na política, como no seriado de TV, novas histórias constantemente. E agora pesquisas já apontam que 25% dos russos prefeririam que nem Putin, nem Medvedev fossem candidatos às eleições de 2012. Amadurece na sociedade a necessidade de uma nova e atualizada ordem.

E parece que o principal problema hoje não é exatamente qual dos dois concorrerá, mas qual será a mensagem principal de um novo mandato presidencial deles. Talvez a nova mensagem seja que ambos se candidatarão à eleição. Isto, apesar das preocupações de muitos, não vai conduzir a uma divisão perigosa da elite em dois campos irreconciliáveis, mas, pelo contrário, permitirá que se estabilize todo o sistema que está passando agora por algumas dificuldades com a crise mundial e a evidente estagnação do programa de modernização do país. A campanha competitiva de Pútin contra Medvedev, que começa a focar nas diferenças individuais não-essenciais entre eles (e parece que eles não têm diferenças essenciais), permitirá preservar a integridade do curso estratégico de desenvolvimento do país como um todo, manter e estabilizar relativamente o sistema sócio-político.

Gueórgui Bovt é um comentarista político baseado em Moscou

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