Proteção contra as ameaças do espaço

Base de radares do sistema antimíssil Don-2N da região de Moscou/Foto: ITAR-TASS

Base de radares do sistema antimíssil Don-2N da região de Moscou/Foto: ITAR-TASS

De acordo com as determinações do presidente Dmítri Medvedev, novas divisões de defesa espacial e aérea (DEA) devem ser criadas na Rússia. Especialistas afirmam que a proposta de criação do sistema, feita pelo comandante do projeto bélico espacial, já foi aceita pelo Estado Maior e provavelmente deve ser posta em prática após discussão e aperfeiçoamento no Conselho Nacional de Segurança.

Antes desconhecido do grande público, o tenente-general e comandante do projeto espacial bélico da Rússia, Oleg Ostapenko, passou a fazer aparições constantes na mídia em todo o país nos últimos tempos. Primeiro, o general conduziu uma conferência e uma tour de imprensa dedicadas a até então altamente secreta base de radares do sistema antimíssil Don-2N da região de Moscou, localizada na cidade de Sofrino, nos arredores da capital. Depois, pronunciou-se a respeito da participação da Rússia no sistema antimíssil europeu que a OTAN está criando em conjunto com o país (ou, possivelmente, sem ele). Declarou ainda que o sistema antimíssil russo pode colocar sob suas asas toda a Europa Ocidental, além das regiões do Mar Negro, Mar Báltico e Mar do Norte.

 

“Nossa contribuição poderá consistir na destruição de mísseis balísticos direcionados a alvos localizados na Federação Russa, em Estados vizinhos e na Europa Ocidental”, declarou. O comandante afirmou ainda que a eliminação de mísseis lançados contra a Europa será possível por meio de um centro conjunto de operações militares, cuja criação está sendo discutida de acordo com o projeto desenvolvido pela OTAN. Em suas palavras, caso as informações a respeito do alvo sejam recebidas, os sistemas russos de defesa antimíssil e antiaérea designadas para um determinado quadrante poderão abater projéteis lançados por países de fora do sistema e que estejam em posição de ataque ou em trânsito na zona de responsabilidade russa.

 

São compreensíveis os motivos pelos quais Ostapenko tem feito tantas aparições públicas. Até o dia 1º de dezembro de 2011, de acordo com as determinações do presidente Dmítri Medvedev, novas divisões de defesa espacial e aérea (DEA) devem ser criadas no país. Especialistas afirmam que a proposta de criação do sistema, feita pelo comandante do projeto bélico espacial, já foi aceita pelo Estado Maior e provavelmente deve ser posta em prática após discussão e aperfeiçoamento no Conselho Nacional de Segurança.

 

As sugestões consistem, essencialmente, na integração de todos os sistemas que atualmente controlam o espaço aéreo, o território tanto da Rússia quanto de seus aliados e também a extensão completa de suas fronteiras.

 

De acordo com a proposta do general, o Estado Maior teria a tarefa de acatar os comandos do DEA. Além disso, alguns especialistas asseguram que o sistema deve integrar o arsenal de mísseis estratégicos para que não se retarde um lançamento preventivo caso seja enviado o sinal de alerta de um ataque inimigo contra o país. Este cenário foi, aliás, previsto quando, no início deste século, a Rússia empreendeu uma tentativa inicial de criar um sistema de defesa espacial e aérea.

 

Na época, a proposta de integração do arsenal estratégico e do sistema DEA foi considerada inconsistente. Andrei Kokochin, ex-assessor do Ministério da Defesa da Rússia, ex-secretário do Conselho Nacional de Segurança e atualmente membro da Duma e da Academia de Ciências, considera que deve haver uma relativa separação entre os dois sistemas para que o governo tenha tempo de tomar decisões. Ou seja, as perspectivas da proposta do comandante em relação a isso não são tão certas.

 

Resta ainda uma questão: se a criação do sistema europeu de defesa antimíssil contemplar a Rússia, como o DEA poderá ser unificado a ele? Por ora, não existe resposta: ainda não está claro qual papel Washington e Bruxelas concederão a Moscou e qual será o nível de participação da Rússia no projeto. Na verdade, ainda existem mais perguntas que respostas. Os Estados Unidos, contrariando as resoluções tomadas na reunião de cúpula do conselho Rússia-OTAN, já estão prontos para instalar seu sistema de defesa na Romênia. Se a situação continuar a seguir neste rumo, não se poderá mais falar da criação conjunta de um sistema de defesa que integre a Rússia. É muito mais provável, isso sim, que se tenha uma nova cisão dentro da Europa.


O que se propõe unificar

 Em primeiro lugar, este é um sistema de alerta contra ataques por meio de mísseis. Nele entrarão as bases de radar em Olenegorsk, na região de Murmansk; em Lekhtusi, na região de São Petersburgo; e em Petchora, na República dos Komi. Além delas, a base em construção na região de Kaliningrado; a base já operacional em Gántsevitchi, na Bielorrússia; e as bases em Armavir, na região de Krasnodar; em Qabala, no Azerbaijão; em Balkhach, no Cazaquistão; e nos arredores de Irkutsk, esta última em fase de construção e já operacional. Entrarão ainda os satélites que orbitam de maneira elíptica ou geoestacionária e o sistema de controle espacial e cósmico, cujas bases de radar e instalações óticas e eletrônicas se encontram nas mais diversas partes do país e também fora dele, incluindo a base próxima à região de Nurek, no Tadjiquistão.

Ao sistema DEA, também deve ser integrado o complexo de defesa antimíssil A-135 da região de Moscou, que entra na composição da já mencionada base multifuncional Don-2N, responsável por controlar aproximadamente cem foguetes preventivos posicionados em seis pontos ao redor da área metropolitana de Moscou. E ainda os complexos de defesa antiaérea e antimíssil S-300 e S-400 e, possivelmente no futuro, o S-500, cujos mísseis poderão interceptar alvos balísticos no espaço. Ademais, o mais importante é que as divisões de defesa espacial e aérea sejam transferidas para o comando operacional do complexo de defesa antiaérea, que atualmente faz parte do conjunto de proteção das regiões militares ocidental, do sul, central e oriental juntamente a seus recursos aéreos, que são os caças interceptadores.

Víktor Litóvkin é editor-chefe da revista Nezavisimoie voiennoie obozrenie (do russo, “Observador militar independente”).

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