“Cupuaçu voador” de volta ao Brasil

Desenhado como modelo militar naval, o Kamov-32 é usado em larga escala na Europa/Foto:RIA Novosti

Desenhado como modelo militar naval, o Kamov-32 é usado em larga escala na Europa/Foto:RIA Novosti

Helicóptero que passou dois meses na Amazônia nos anos 90 e ganhou o nome da fruta brasileira chega para transporte de cargas.

Enquanto o Ministério da Defesa brasileiro anuncia um corte no orçamento que pode frear a compra de aeronaves pelas Forças Armadas, a iniciativa privada passa a investir no setor para uso em engenharia. Até o primeiro trimestre de 2012, a brasileira Helipark deve receber seu primeiro modelo de helicóptero Kamov, o Ka-32, que começou a ser negociado ainda em setembro de 2009. Fundamentada no setor civil, a empresa de táxi aéreo dá o primeiro passo para se tornar também uma prestadora de serviços a empreiteiras, carentes de equipamentos do gênero.

“Existe no Brasil todo um mercado para helicópteros de carga: não há praticamente nenhum helicóptero que faça carga de grande porte. Para cargas menores, de 300 kg, 400 kg ou 500 kg existem, mas eu estou falando aqui de algumas toneladas”, explica o empresário João Velloso, dono da Helipark.

Evolução da aeronave naval Ka-27, o Kamov Ka-32 pode carregar até 5 toneladas de carga. “Essa capacidade de levantamento de carga muito grande faz com que ele seja usado como guindaste aéreo”, explica o diretor da revista especializada Asas, Cláudio Lucchesi. Além disso, o helicóptero tem duas hélices superiores contra-rotativas, o que elimina a necessidade do rotor de cauda e possibilita mais precisão no transporte de cargas.

Segurança

“O rotor de cauda também é sempre um fator de risco, principalmente em situações de emergência, quando não dá tempo de desligá-lo. Parece muito fácil imaginar que ninguém em sã consciência vai sair do helicóptero e passar perto daquilo, mas infelizmente acontece”, explica Lucchesi. Segundo ele, a eliminação da hélice na cauda também facilitaria pousos em locais despreparados, já que não haveria risco de bater o componente na vegetação, causando acidentes.

Para Velloso, as dimensões do Ka-32, razoavelmente pequenas para sua capacidade de carga, também atenderiam a necessidades ambientais. “Para contruir uma linha de transmissão, por exemplo, ao invés de se construir uma estrada para levar as torres, pode-se ir de helicóptero, assim como para transportar equipes, fazer clareiras, nivelar o solo sob a torre, trocar queimadores de petróleo e até instalar equipamentos de ar-condicionado sem precisar parar o trânsito com guindastes gigantescos”, explica Velloso.

Manutenção brasileira

O contrato celebrado pela Helipark contempla também outros serviços adicionais para o uso do Ka-32, incluindo treinamento de pessoal e um provável centro de manutenção a ser estabelecido nas próprias instalações da empresa. Como parte das preparações, quatro pilotos, dois mecânicos de voo para operação do guindaste e quatro mecânicos - todos brasileiros - serão enviados à Rússia em setembro. A equipe passará quatro meses na cidade de Kumertau, quase na fronteira do Cazaquistão, para treinamento com a aeronave.

“A aeronave já está certificada ou em fase de certificação na EASA, autoridade aeronáutica europeia, e essa certificação facilita muito o processo aqui no Brasil”, diz Velloso.

O Kamov Ka-32 já é usado em Portugal, Espanha, Suíça e Canadá, entre outros países, principalmente na indústria de construção e em operações anti-incêndio.

“Com certeza o Brasil está muito atrasado nessa aquisição, e um dos motivos é um preconceito até meio esquisito com a Rússia, porque o Brasil não foi linha de frente da Guerra Fria”, acredita Lucchesi. Ele conta que um modelo da aeronave chegou ao Brasil em meados dos anos 90, quando foi emprestado à FAB (Força Aérea Brasileira), com o intuito de ser vendido.

“Esse helicóptero ficou um tempão aqui pelo Brasil e durante um período passou pela Amazônia, mas por uma questão muito mais política do que por qualquer outra coisa, não foi comprado”, afirma.

Cupuaçu Voador

“Uma coisa é fato: ele não teve nenhum problema na Amazônia, onde a operação durou cerca de dois meses”, disse à Gazeta Russa o coronel Fernando Cominato, piloto da FAB que na época servia em Manaus.

Segundo o coronel, toda experiência foi uma “aventura”, começando pela instrução, dada por um piloto e um engenheiro que só falavam russo e um gerente de vendas que fazia as vezes de tradutor, mesmo sem saber vocabulário técnico. 

“Aquele helicóptero singular logo chamou a atenção do povo simples da região, que rapidamente o apelidou de Cupuaçu Voador”, conta.

Frases


Cláudio Lucchesi, especialista em aviação russa

 

" O rotor de cauda, que o Kamov-32 eliminou, é sempre um fator de risco e uma preocupação com a segurança, principalmente durante a decolagem e o pouso do helicóptero. É muito fácil imaginar que ninguém em sã consciência vai sair do helicóptero e passar perto daquilo, mas infelizmente acontece.”

João Velloso, dono da Helipark Táxi Aéreo

 

" O Ka-32 pode ser usado na montagem de torres de uma linha de transmissão sem ter que construir uma estrada para isso, para levar equipes, para trocar queimadores de petróleo, instalar ar-condicionados em topos de prédios e no combate a incêncios, já que pode levar quatro toneladas de água.”

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