O problema dos ETFs para a Rússia

O mercado de ações da Rússia tem sido a grande estrela deste ano, mas os analistas temem que esse aumento da importância dos ETFs faça com que qualquer correção seja repentina e brusca.

Os mercados emergentes estão em alta – em parte porque eles têm tido uma recuperação mais sólida da crise global do mercado de ações em 2008. Depois de ignorarem a ascensão dessas economias por boa parte dos anos 90, os principais investidores acordaram para os grandes lucros que podem obter nesses mercados em um período de tempo relativamente curto, e recorreram aos ETFs – abreviação de Exchange Trade Fund, uma unidade negociável na Bolsa de Valores como se fosse uma ação, mas que reúne um número variável de ações –  como estratégia. No entanto, os investidores de longo prazo dos maiores mercados emergentes alertam que esses fundos são efetivamente hot money e podem desestabilizar os mercados de ações de crescimento mais rápido. O mercado de ações da Rússia tem sido a grande estrela deste ano, mas, uma vez que a economia é cada vez mais dependente do petróleo, os analistas temem que esse aumento da importância dos ETFs faça com que qualquer correção seja repentina e brusca.

O atrativo dos ETFs é que, ao contrário dos fundos mútuos, eles são negociados como uma troca mútua e podem ser negociados como uma ação. Isso quer dizer que os investidores podem instantaneamente entrar e sair de um fundo. Porém, como qualquer outro fundo mútuo, o fundo subjacente é baseado em uma cesta de ações que proporcionam diversidade, que é o alicerce de qualquer investimento em longo prazo em uma classe de ativos de risco. Eles também têm baixo custo e situação fiscal vantajosa. 

“De diversas maneiras, o desenvolvimento paralelo entre os fundos ETF e os casos de investimento nos mercados emergentes tem sido uma feliz coincidência”, disse Chris Weafer, diretor de estratégia da UralSib, em Moscou. “Os ETFs têm desfrutado de uma enorme onda de interesse dos investidores que desejavam botar os pés sobre os mercados em ascensão, já que podem oferecer uma visibilidade mais ampla e aprofundamento em áreas específicas”. 

Poucos teriam pensado que os mercados emergentes seriam beneficiados com essas negociações, mas foi isso que ocorreu à medida que os mercados desenvolvidos se enterram em um buraco de dívidas. O rendimento dos investimentos nos mercados emergentes tem sido bastante satisfatório nos últimos dois anos, e o mercado da Rússia tem sido um dos que apresenta melhor desempenho em todo mundo, até aproximadamente 150% em 2009 e 22% em 2010.

A maioria dos ganhos em 2010 se deu em outros mercados emergentes, mas a Rússia é que apresenta melhor desempenho dentre os países do Bric esse ano, até 15% superior aos demais ao longo dos três primeiros meses de 2011.

O líder do índice RTS superou a psicologicamente importante marca de 2.000 em março, já que a avaliação das ações russas ultrapassou suas altas pré-crise pela primeira vez em dois anos; espera-se que o RTS ultrapasse sua marca máxima de 2.487,92 no fim desse ano.

A Rússia está agora atraindo uma quantidade considerável de capital estrangeiro, e a consultoria EPFR Global afirma que os novos fluxos de dinheiro para os fundos focados na Rússia chegaram a 486 milhões de dólares na última semana de março, partindo dos 139 milhões da semana anterior. Até o fim de março, os ativos sob gestão em fundos dedicados à Rússia bateram um novo recorde de alta, rompendo a marca dos 20 bilhões de dólares, segundo a UralSib. Metade deste valor está agora em ETFs.

“Os investidores de ETF continuam a aumentar a exposição na Rússia. Notavelmente, quase todos os fluxos de capital que entraram nos fundos russos são provenientes dos ETFS, que é uma continuação da tendência de grandes influxos por ETFs, iniciada no fim do ano passado”, afirmou Weafer.

Graças à natureza dos ETFs, os gestores de fundo afirmam que eles aumentam a volatilidade ao atuarem como hot money – investimentos altamente especulativos com intenção de ganhos em curto prazo. O assunto foi levado à pauta na Rússia no meio de março, quando todos os mercados de ação nos mercados emergentes promoveram uma liquidação à medida que os mercados desenvolvidos começaram a demonstrar sinais de recuperação.

“O mercado russo não está seguindo essa tendência. Sendo um mercado emergente complicado, a Rússia recebeu uma parcela desproporcionalmente baixa do portfólio de investimento que escapou do Ocidente após a crise de crédito. Tendo absorvido muito menos dinheiro do Ocidente, a Rússia tem sido menos suscetível a lucros”, disse Liam Halligan, economista-chefe do Prosperity Capital Management (em português, Gestão de Prosperidade de Capital), um fundo dedicado à Rússia.

A fresta de esperança que surge com o aumento dos ETFs é que, sendo o principal veículo de investimento, a palavra “Rússia” entrou no vocabulário dos consultores financeiros que vendem fundos para pequenos investidores e para investidores institucionais mais conservadores.   

“Os influxos de ETF [para Rússia] refletem o fato de o país estar sendo agora cada vez mais citado entre os principais investidores profissionais como um mercado com boas perspectivas para 2011, e deste ano em diante”, disse Halligan.

É um processo educativo que acabará beneficiando a todos, mas, enquanto isso, os investidores estão esperando um caminho instável, como preocupações com a agitação no mundo árabe e, por tabela, com os gestores de fundo dos preços internacionais do petróleo. Se os ETFs se assustarem com a queda dos preços de petróleo, uma saída coletiva poderia causar uma correção acentuada nos preços das ações russas.

 

 “Esses fluxos de fundo são bastante sensíveis às tendências de preço do petróleo e de outras commodities. Isso sustenta um cenário positivo para o Brasil e Rússia agora, mas aumenta o risco de uma maior volatilidade do mercado quando os preços das commodities se estabilizarem ou caírem”, disse Weafer.  

Em um sinal precoce de preocupação, o Market Vectors TR Russia ETF (RSX), o ETF russo mais listado nos EUA, aumentou bruscamente sua venda a descoberto (em inglês, short selling) de fundos russos no fim de fevereiro, segundo a Bloomberg. Essa prática consiste na venda de ações emprestadas, na esperança de comprá-las mais tarde por um preço mais baixo e então retorná-las ao emprestador.

Outros investidores apontam para as ainda baratas avaliações das ações: os valores das ações russas em uma base preço/lucro são os mais baixos dentre os 21 principais mercados emergentes, de acordo com a Bloomberg. “A Rússia está em excelente estado atualmente”, disse Julian Mayo, gestora financeira de Londres que ajuda a supervisionar cerca de 3,5 bilhões de dólares nos países em desenvolvimento na Charlemagne Capital Ltd., e possui poderosas holdings. “Creio que a Rússia vai continuar mostrando o melhor desempenho”.

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