Turismo é aposta contra ações extremistas

Ministro do turismo para a região, Oleg Karsanov luta para convencer investidores/Foto:Ruslan Sukhuchin

Ministro do turismo para a região, Oleg Karsanov luta para convencer investidores/Foto:Ruslan Sukhuchin

Região abalada por atentados é agora palco de projeto para atrair viajantes, apesar das críticas e da desconfiança dos moradores.

Determinado a transformar sua terra natal e atrair turistas para a montanhosa república russa, o ministro do Turismo da Ossétia do Norte, Oleg Karsanov, 43, está há quatro anos à frente dos atuais esforços federais para desenvolver o setor na região.

“Gasto metade do meu tempo convencendo os investidores de que somos um bom lugar para injetar capital e a outra metade lutando contra a burocracia daqui”, explica com um largo sorriso.

Karsanov morou oito anos em Londres durante a década de 90, gerenciando uma empresa de consultoria e cursando MBA na Universidade Webster, antes de decidir que seu destino estava na própria origem. “Provei todo tipo de comida do mundo, e decidi que gosto mais da de casa”, afirma. Depois de ocupar diversos cargos no governo local, foi encarregado do desenvolvimento turístico da região.

“Nos tempos soviéticos, éramos um ponto de passagem para turistas”, explica Karsanov. Mas, em 1999, o mercado central de Vladikavkaz, capital da Ossétia do Norte, foi abalado por uma explosão que matou 62 pessoas. Em 2010, foi a vez de um ataque de menor proporção atingir a cidade. Embora os culpados tenham sido condenados, a reputação do local como destino turístico permanece afetada. Apenas o turismo doméstico sobreviveu.

“Estamos aqui para esquiar”, conta Aliona, uma turista que viajou de São Petersburgo para o sul do país. “Até aqui está sendo divertido”, diz.

Desafio turístico

O projeto de Karsanov tem duas frentes: introduzir, através de subsídios estatais, infraestrutura básica como estradas, canalização e eletricidade, e oferecer incentivo a investidores para que abram hotéis e outros tipos de serviço. “Ninguém irá investir na região enquanto não nos desenvolvermos”, enfatiza.

Ganhando um salário mensal médio de R$ 800, os moradores não acreditam que possam fazer dinheiro extra com o setor. “Hoje em dia tem poucos turistas na região, apesar do potencial daqui”, diz o lavrador Suslan Elkanov, 40. “Para nós, os visitantes são sagrados”, completa.

Fotos:Ruslan Sukhuchin


Vilarejo para inglês ver

Karsanov explica que o etnoturismo tem sido incentivado entre os habitantes. “Diversas famílias rurais gostam de receber hóspedes que se integrem e participem das atividades do dia-a-dia, ordenhando vacas, reunindo o rebanho e preparando refeições. Não cobramos impostos dos moradores que atendem turistas até que o conceito se prove lucrativo.”

Para chegar ao abandonado vilarejo Tsemeti, que remonta ao século 14, é preciso viajar uma hora e meia de carro  para o oeste da capital. Um conjunto de templos de pedra e estradas preenchem as colinas até quase 30 metros acima do vale. “É um ótimo lugar pra fazer um vilarejo étnico para turistas”, vislumbra Karsanov. “A maioria dessas construções de pedra estão na forma original. Quero convencer alguns locais a se mudarem para cá, receber hóspedes, e criar gado como se fazia centenas de anos atrás”.

Quando pressionado sobre quem teria capital e confiança para construir hotéis nas montanhas caucasianas, Karsanov responde: “Nossa sociedade se dispersou tanto pelo exterior quanto pelas demais áreas da Rússia e uma porção de homens de negócios bem-sucedidos da Ossétia do Norte querem investir no mercado imobiliário daqui.”

O plano de Karsanov prevê o aumento do número de turistas anual dos atuais 100 mil para 200 mil até 2014. “Recebemos cerca de 10 mil estrangeiros no ano passado, a maioria caçadores profissionais interessados em nossa terra e na vida selvagem da região”, afirma.

Mamisson

A parte mais ambiciosa do projeto gira em torno da Mamisson, uma estação de esqui em construção, no valor de US$ 1 bilhão, quase duas horas a sudoeste de Vladikavkaz. O projeto contaria commais de 100 km de pistas de diferentes níveis de dificuldade, a altitudes entre 1,9 mil e 3,3 mil metros. “Infelizmente, ainda existem poucas estações de esqui de qualidade na Rússia, e nossos conterrâneos poderão esquiar em uma excelente estação sem ter que deixar o país”, explicou Karsanov. O plano também inclui a construção de uma estrutura para a prática de alpinismo e rafting nas montanhas dos entornos.

“Isso tudo soa um pouco utópico para mim”, diz Galina Gokashnavili, uma professora de Vladikavkaz. “Eles falam em construir algo semelhante à Mamisson desde a década de 1970, e agora nós temos uma péssima reputação. Talvez as pessoas das áreas próximas frequentem o local, mas não o povo de Moscou”.

A Mamisson é parte de um programa federal de US$ 15 milhões, que tem por finalidade o desenvolvimento de estações por todo Cáucaso do Norte. Dos US$ 2 bilhões financiados diretamente pelo Estado, a Mamisson, por ser o maior dos cinco projetos, receberá quase US$ 600 milhões.

“Temos que mudar a imagem do Cáucaso do Norte para sempre”, afirma o presidente da República Russa da Ossétia do Norte , Taimuraz Mamsurov. “Não podemos fazer isso por meio de uma avalanche de publicidade, o que precisamos é que as pessoas venham, se divirtam e recomendem aos amigos”.  

Para Karsanov, os Jogos de Inverno de Sôtchi 2014 irão ajudar nesse aspecto. “Não somente mostrarão a Rússia sob uma perspectiva mais positiva, mas os russos também ficarão mais interessados em esquiar, como ocorreu em outros países. Isso trará mais turistas para a região”, acredita.

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