Licitação de caças para o Brasil se arrasta, mas Rússia insiste

Foto: SUKHOI.ORG

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O Brasil reabriu a licitação para a aquisição de 36 novos caças pelo programa FX-2, no valor de quatro bilhões de dólares, segundo a agência de notícias russa ARMS-TASS. Participantes do tender anterior, a norte-americana Boeing, a sueca Saab e a francesa Dassault, continuam liderando a lista de preferências. Já a companhia russa Sukhoi, com o seu caça multifuncional Su-35, parece estar de fora da competição.

A licitação está sendo realizada pela terceira vez.  A primeira concorrência, realizada sob a sigla F-X, foi anunciada em 1999. Na época, as Forças Armadas planejavam substituir seus Mirage III e equipar uma ou duas esquadrilhas com caças modernos. O contrato, todavia, previa valores relativamente modestos. Tratava-se da aquisição de 12 ou 24 aeronaves no valor de 700 milhões de dólares. Praticamente todos os representantes do mercado pretendiam participar da concorrência. As modificações dos modelos mais populares de caças multifuncionais de médio porte da época figuraram entre os candidatos. Os principais concorrentes eram o F-16, da Lockheed Martin; o Mirage-200BR, com seu modelo especialmente modificado para o Brasil; o mais novo caça sueco JAS-39 Gripen; e o russo MIG-29SMT. Na ocasião, enquanto a Sukhoi começava a demonstrar interesse no mercado brasileiro, os franceses eram considerados favoritos devido aos fortes contatos desse país com as Forças Armadas e com os expoentes da indústria aeronáutica do Brasil.

Uma das principais condições do tender, além do fornecimento de caças ao Brasil, era a necessidade de produção das aeronaves nas fábricas do país, bem como a transferência de tecnologia. No entanto, o tender acabou não se realizando, pois o Brasil estava atravessando dificuldades econômicas. O governo acabou decidindo pela aquisição de 12 caças franceses usados, modelo Mirage-2000, em sua versão menos atualizada, e adiou a discussão.

Em 2007 a licitação foi retomada com praticamente os mesmos concorrentes. Dessa vez, entretanto, o Brasil planejava adquirir 120 aviões no valor de até 10 bilhões de dólares.  A conclusão dessa também foi adiada, desta vez em função de cataclismos climáticos – os recursos foram realocados para a solução de graves problemas sociais decorrentes das catástrofes. Para esse tender Washington ofereceu ao Brasil a mais nova modificação de seu principal caça, o F\A-18E\F Super Hornet. Os franceses entraram com a proposta de venda do Rafale, em vez do Mirage. Outros países europeus resolveram participar da disputa com o caça Eurofighter Typhoon, enquanto os suecos apresentaram seu SAAB – Gripen JAS-39.

Nesse contexto, os representantes da aeronáutica russa receberam um duro ultimato do governo brasileiro: o tender poderia ser vencido pelo Su-35, caso a Rússia adquirisse as aeronaves comerciais da Embraer. Mas o conglomerado Sukhoi não tinha condições de tomar essa decisão. Na mesma época a empresa concluía o desenvolvimento e licenciamento de sua própria aeronave comercial para voos regionais, o Superjet-100. Permitir a entrada no mercado nacional de um concorrente direto como a Embraer, que goza de excelente reputação em muitos continentes, não estava nos planos da empresa russa. A compra de aeronaves da empresa brasileira, ou sua permuta pelos Su-35, poderia por um fim à aeronáutica russa, que ainda se encontrava no início de seu renascimento.

Além disso, houve outro empecilho. Segundo fontes da companhia Sukhoi, a empresa não estava pronta para transferir toda a tecnologia de produção do caça Su-35 ao Brasil. “Os brasileiros poderiam fabricar clones da nossa aeronave militar e vender para o resto da América Latina. Desse modo, podemos perder o mercado na Venezuela, Chile e Colômbia... Não precisamos disso”, revelou uma fonte da empresa que não quis se identificar.

 Assim, a terceira licitação para venda de caças modernos ao Brasil ficou sem o russo Su-35 na lista dos principais concorrentes. Isso não significa, entretanto, que Moscou não esteja pronta para parcerias com o Brasil na produção de caças. Na primavera do ano passado, a imprensa divulgou uma proposta russa ao Brasil e à Índia para participação no projeto de um caça de quinta geração baseado no modelo T-50. O novo avião já está voando e passa por testes na base da cidade de Jukóvski, nos arredores de Moscou. Por enquanto não há uma resposta definitiva do Brasil, mas Nova Deli já assinou acordo com o Kremlin para projetar aeronaves desse tipo para sua Força Aérea, com perspectiva de vendê-la para terceiros.

A decisão de renovar a frota de aviões militares do Brasil já foi tomada há pelo menos 15 anos. Segundo o relatório do instituto internacional de pesquisas estratégicas, The Military Balance, a Força Aérea brasileira possui 18 caças franceses do modelo Mirage F-103E (14 deles do tipo Mirage IIIE), 47 caças norte-americanos do modelo  F-5E\B\F, mais de 50 caças-bombardeiros do modelo AMX (projeto conjunto do Brasil com a Itália), e cerca de 100 caças-bombardeiros leves do modelo Super Tucano para treinos, projetadas e construídas no Brasil. Muitas dessas aeronaves, em função da idade, do uso extensivo e da desatualização técnica encontram-se praticamente inutilizadas.

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