Arte, política ou traquinagem?

Foto: www.guelman.ru (4)

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A obra da dupla Narizes Azuis já foi tratada como provocação política. Hoje, entretanto, só provoca risadas.

Em 2006, o londrino Matthew Bown, dono de galeria especializado em arte russa, tentou embarcar num aeroporto de Moscou com fotografias que mostravam homens de cuecas samba-canção e máscaras de Vladímir Pútin, George W. Bush e Osama Bin Laden brincando num sofá. Em outra foto, uma mulher-bomba vestida de preto tinha a saia levantada pela ventilação do metrô, evocando a célebre imagem de Marilyn Monroe. Os funcionários do aeroporto não acharam graça em "Marilyn Tchetchena", nem em "Show de Máscaras" - o que é estranho, porque a maioria do público se diverte com a obra da dupla de artistas "Narizes Azuis". Bown foi preso, o trabalho confiscado e se criou o tipo de escândalo que o mundinho das artes plásticas adora.

A dupla é formada por Slava (apelido de Viatcheslav) Mizin e Sasha (Aleksandr) Shaburov, dois artistas de província que conquistaram o público na Feira de Artes de Moscou e no circuito internacional de galerias.

Eles adotaram o codinome Narizes Azuis durante uma instalação num bunker em que faziam truques tolos e colocavam tampas de garrafas azuis no nariz. Em outubro, a dupla foi objeto de uma retrospectiva na Vinzavod, a sofisticada vinícola transformada em espaço de arte em Moscou. “Os Narizes Azuis passaram de anti-establishment para uma instituição”, diz Matthew Bown. “A Rússia agora está tratando os Narizes Azuis como uma piada, em vez de lhes dispensar uma seriedade mortal.”

“A Era da Compaixão”, obra que retrata dois policiais se beijando numa floresta de bétulas, está cotada em pelo menos US$ 25 mil e seu popular Lênin projetado dentro de uma caixa de papelão vale pouco menos que isso. O mentor da dupla foi Oleg Kulik, o mestre russo da provocação - conhecido pelos dias em que imitou um cachorro, passeando de quatro por galerias de Varsóvia e Nova York. Além disso, seu marchand é nada menos que Marat Guélman, um dos primeiros donos de galeria da Rússia pós-URSS.

“A revolução continua” (2005), obra da dupla Narizes Azuis


Tudo começou no início dos anos 90, quando Shaburov usou uma bolsa da Fundação Soros para gravar em vídeo uma “intervenção artística” transformando seus problemáticos dentes num novo e alvo sorriso. Dez anos depois, iniciou a parceria com Mizin em “Dois Contra a Máfia”, encenação que termina com suas cabeças enfiadas em jarras de picles. Mas sua fama se deve principalmente a “Uma vela em minha vida”, fotografia em que o duo e outro colega de gozação retratam Jesus, Vladímir Pútin e Aleksander Púshkin. A obra foi vista como uma provocação política e tornou-se alvo de uma queixa criminal. Os dois, entretanto, ridicularizam a ideia de que sejam artistas de oposição. “Gostaríamos que o Serviço Federal de Segurança se interessasse por nós”, dizem.

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