Kremlin abre as portas ao trabalho de estrangeiros

Estrangeiro toca acordeão, instumento tradicional na música local, em frente a faixa onde se lê, em cirílico, “estilo russo”/Foto: Kirill Tulin_kommersant

Estrangeiro toca acordeão, instumento tradicional na música local, em frente a faixa onde se lê, em cirílico, “estilo russo”/Foto: Kirill Tulin_kommersant

Imigração de profissionais qualificados tende a atrair investimentos externos. Essa é a aposta do governo para reciclar o mercado.

A política de imigração russa para operários altamente especializados é hoje uma das mais tolerantes do mundo. O recrutamento de cientistas e altos executivos, principalmente da Europa, está longe de representar uma abertura despretensiosa. Pelo contrário, é um investimento do Kremlin para acelerar a modernização da economia.

Em maio do ano 2010, o presidente Dmítri Medvedev deu o grito de "modernização ou morte". Uma nova legislação foi aprovada para facilitar a imigração de trabalhadores altamente especializados, com experiência e talento, capazes de ajudá-lo no novo projeto.

E, com a importação de administradores e especialistas pelas empresas multinacionais, mais investimentos estrangeiros serão atraídos para a Rússia.

Dentro do país, no entanto, existe uma necessidade crescente de gerentes experientes, que ajudem a aumentar a eficiência, a produtividade e a inovação, principalmente agora que o governo de Medvedev se prepara para colocar em prática o "Vale do Silício Russo", um projeto avaliado em US$ 2 bilhões e que já começa a ser construído em Skôlkovo, nos arredores de Moscou.

Enquanto o desenvolvimento da indústria de alta tecnologia no país tem estampado as manchetes de todos os jornais, o mercado para reputados cientistas russos torna-se cada vez menos atrativo.

Segundo relatório da IBM publicado no mês passado, as instituições de pesquisa científica do país estão entre as melhores do mundo, mas as escolas de administração ainda estão abaixo do nível do mercado. Pela pesquisa, 59% das empresas apontam a mão-de-obra como obstáculo significativo ao desenvolvimento.

Gerentes estrangeiros podem ser a solução, já que possuem formação de qualidade e dominam as técnicas ocidentais para a alta tecnologia que serão usadas no projeto de modernização, acredita Lilit Geovorgian, da consultoria IHS Global Insight.

O especialista em migração da PricewaterhouseCoopers, Guennádi Odaritch, defende que esses profissionais também podem se transformar em modelos para os funcionários russos, o que ajudaria a moldar as futuras gerações tanto em talento quanto em novas atitudes.

Segundo ele, o apetite por tais candidatos é grande, mas o melhor de tudo é que o terreno já está preparado: “As coisas parecem estar correndo bem. As autoridades estão de esforçando muito para garantir que a burocracia entenda esse novo processo.”

Benefícios

Para encorajar a vinda desses profissionais, o governo russo criou programas de incentivo à imigração de pessoal qualificado, que seguem o modelo usado por Reino Unido, Canadá e Austrália.

Pela nova lei, os empregados qualificados e suas famílias recebem um visto de três anos, o que torna o processo de imigração um dos mais fáceis do mundo. Para os empregadores, a vantagem é a atual isenção da cota anual do Serviço Federal de Migração.

Para os trabalhadores estrangeiros que não se qualificam como altamente especializados, as empresas interessadas têm só o mês de janeiro para requerer permissão ao governo para empregá-los, sem nenhum recurso para revisão durante o resto do ano.

Caçadores de talentos como Nikita Prokofiev, da agência Odgers Berndtson, afirmam que o plano de instigar as companhias a trazerem os profissionais mais valiosos está funcionando. E, ao mesmo tempo, o mercado evoluiu e também está em um momento de contratar cada vez mais funcionários locais.

"Agora muitas companhias preferem contratar russos”, explica ele. “Há 15 anos, o funcionário especializado que se buscava era uma pessoa bilíngue com um domínio básico de finanças, mas agora as empresas só querem empregados seniores com qualidades muito específicas.”

Isso acontece não apenas devido ao forte desejo de empregar pessoal que conheça a cultura do comércio local, mas também à própria definição do empregado altamente qualificado, que recebe até 2 milhões de rublos por ano (cerca de R$ 9,5 mil por mês). Enquanto os salários no mercado interno ainda estão se recuperando da crise econômica, os trabalhadores qualificados e experientes de fora esperam por uma premiação para se transferirem.

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies