Importando cérebros

Há cerca de dois anos, nossa instituição, a Nova Escola de Economia, contratou um estrangeiro como professor efetivo pela primeira vez. Acadêmicos russos educados no exterior são extremamente raros nas universidades do país e poucas instituições podem se gabar de ter um estrangeiro na folha de pagamento. Depois de selado o acordo, porém, tivemos um pequeno problema: descobrir como trazer nosso novo colega para o país.

A Rússia é praticamente o único dos países que preza pela pesquisa a não possuir uma categoria de vistos “acadêmicos”. Além do mais, até este ano só havia uma única categoria de vistos para todos os pretendentes a trabalhar no país. Uma companhia que desejasse, por exemplo, um advogado estrangeiro treinado em Harvard, tinha que enfrentar as mesmas complicações burocráticas para trazer centenas de operários de construção. Como consequência, profissionais altamente especializados muitas vezes obtinham vistos de apenas três meses para poderem trabalhar no país e eram forçados a viajar a um país vizinho no final do período para pedir uma nova permissão de entrada na Rússia.

As complicadas e restritivas regras para obtenção de visto tornam mais difícil atrair para o país os melhores talentos do mundo, e isso tem sido um grande obstáculo para qualquer tipo de intercâmbio acadêmico há muito tempo. A resistência em afrouxar essas regras também é enorme. Uma grande parte do funcionalismo russo, especialmente a ligada às forças armadas, naturalmente encara tal abertura como um convite para que se mandem mais espiões para a Rússia. Outros, incluindo aqueles considerados bastante liberais, são contra qualquer relaxamento unilateral dos regulamentos de vistos, o que poderia ser visto como concessão e sinal de fraqueza.

No entanto, prevalece a ideia de que a capacidade russa em atrair profissionais estrangeiros altamente qualificados é necessária se o país quiser se modernizar – e a seriedade do problema parece ter sido finalmente reconhecida pelo governo. Emendas inclusas nas leis de imigração no primeiro semestre oferecem privilégios aos profissionais estrangeiros chamados “altamente qualificados” (que também são altamente pagos, diga-se). Esses novos regulamentos de vistos entraram em vigor há poucos meses, mas, curiosamente, não se aplicam a pesquisadores e professores, que não se encaixam na definição de “profissionais altamente qualificados” da nova lei, já que não recebem pelo menos dois milhões de rublos (cerca de R$ 110 mil) anuais.

Novas medidas em discussão voltadas às universidades e aos pesquisadores devem resolver alguns dos problemas mais urgentes. Entre elas, estão propostas para incluir professores na categoria de “profissionais altamente qualificados”; criar uma opção para a emissão de “vistos acadêmicos” em não menos que três dias; permitir que pesquisadores estrangeiros se desloquem livremente pelo país; permitir que seus esposos trabalhem sem a necessidade de requisição de uma permissão de trabalho à parte. Embora essas emendas possam parecer menos revolucionárias, caso sejam introduzidas ajudarão a atrair mais profissionais altamente qualificados para a Rússia e tornarão muito mais fácil a vida daqueles que já estão trabalhando no país.

Entretanto, muito mais precisa ser feito. As regras e os regulamentos de visto ainda estão atravancados por todo tipo de exigências ridículas ou supérfluas. Para atrair um acadêmico do exterior com diploma de doutorado, por exemplo, ele teria de traduzir sua dissertação na totalidade e submetê-la a uma nova defesa de tese.

Finalmente, existe a questão da implementação do novo regulamento e de fazer com que os consulados russos, conhecidos por suas maneiras pouco amistosas, modifiquem sua atitude em relação aos requerentes de vistos. Isso exigiria mudar toda a mentalidade do serviço consular russo, o que levaria um longo tempo. Ainda assim, o mero fato de que o presidente Medvedev afirmou no ano passado que “nós precisamos deles” (isto é, de profissionais qualificados do estrangeiro), e não o oposto, oferece algum terreno para otimismo.

Igor Fediukin é diretor de Estudos de Política na Nova Escola de Economia.

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