A Paris e a Berlim dos Urais

Na aldeia da “Paris dos Urais” há apenas 2.500 habitantes Foto: ITAR-TASS

Na aldeia da “Paris dos Urais” há apenas 2.500 habitantes Foto: ITAR-TASS

Na área de estepe do sul dos Urais existe a "ilha da Europa", uma sequência de pequenas cidades com o mesmo nome de capitais europeias, como Paris e Berlim. A Gazeta Russa pesquisou a história desses lugares.

Paris, Fère-Champenoise, Berlim, Leipzig, Varna, Kassel, Port Arthur e mais cerca de duas dezenas de assentamentos no mapa da região de Cheliabinsk têm nomes de cidades europeias em homenagem às vitórias das tropas russas na Alemanha e na França em 1799 e 1813-1814. Esses nomes foram dados pelos cossacos ortodoxos enviados até lá para reforçar as fronteiras do sul do Império Russo.

Essa confusão geográfica bastante complicada tornou-se não só o símbolo da glória militar como também um dos passeios favoritos e mais incomuns dos russos. A viagem de Paris para Berlim pelas estradas dos Urais pode ser realizada em um dia.

Os “nagaibaki”

Na Kassel dos Urais não se pode sentar no bar e tomar cerveja bávara; já na Paris russa não é possível assistir a desfiles de moda. A tranquila vida rural tem casinhas baixas de madeira, estradas rurais empoeiradas, lindas igrejas e a natureza  atraente da região. As aldeias "europeias" são diferentes das demais pelo planejamento das ruas: foram assentamentos fortificados pertencentes a cossacos e tinham uma missão de defesa, por isso as ruas foram construídas obrigatoriamente perpendiculares umas às outras.

Na "Europa do Ural" os turistas estrangeiros não poderão encontrar o brilho habitual e o conforto, mas terão a chance de escapar do ritmo da cidade, ver locais com um modo de vida especial e conhecer os misteriosos “nagaibaki” (pequeno grupo étnico que foi formado após o batismo dos tártaros). Eles participaram da guerra contra Napoleão e, em 1814, chegaram com o exército russo a Paris. Os “nagaibaki” adoram turistas: é mais provável que organizem uma recepção calorosa a visitantes, os familiarizem com suas tradições e revelem os segredos das receitas culinárias de seus bisavós.

Foto: Lori/Legion Media

A comunicação com essas pessoas hospitaleiras pode se transformar em um choque cultural. Apesar de terem nomes e sobrenomes russos, eles falam “nagaibak” (um dialeto tartar). São ortodoxos, mas apesar das proibições do sacerdote local, ainda celebram rituais pagãos. No aniversário da morte de parentes organizam um grande funeral com rituais de sacrifício.

Uma vez por ano, na Quinta-feira Santa antes da Páscoa, preparam a sauna. Os “nagaibaki” acreditam que nesse dia se lavam as almas de seus antepassados. Por isso os vivos não fecham a porta e não entram na sauna. Sua culinária é específica e a sobremesa preferida é cereja ou ameixa com açúcar em calda.

Ver Paris

Na aldeia da “Paris dos Urais” há apenas 2.500 habitantes. Foi fundada há 170 anos como posto do exército cossaco de Orenburgo, ganhou o sonoro da capital da França em homenagem e lembrança da presença de tropas russas em Paris após a derrota de Napoleão em 1814. Apesar do estilo rural, o espírito da França ainda está presente. Os moradores locais, nas melhores tradições europeias, andam de bicicleta e até abriram um salão de beleza chamado Francesa.

Foto: Lori/Legion Media

Na praça central há a maior e mais perfeita cópia da Torre Eiffel na Rússia. O exemplar de 50 metros é seis vezes menor e 160 vezes mais leve que o símbolo original da França e serve como uma torre de celular. Aqui há uma placa onde está escrito: "A torre foi construída em homenagem da glória dos soldados russos vitoriosos [refere-se à guerra de 1812]”.

Nas proximidades desse lugar há um Arco do Triunfo que restringe a entrada de caminhões e tratores. No orçamento da aldeia de Paris há uma rubrica especial dedicada à fabricação de placas com o nome da cidade, que os turistas arrancam e levam de lembrança.

Rumo a Berlim

A 2 km da fronteira com o Cazaquistão e a 155 km de Cheliabinsk fica a aldeia de Berlim. Emergiu há 270 anos como um assentamento do exército cossaco de Orenburgo, onde foi fundada a fortaleza da Trindade, construídos pontos de defesa, redutos e cercas. A pequena aldeia dos Urais  recebeu o nome europeu em homenagem à captura de Berlim pelas tropas russas em 1760, durante a Guerra dos Sete Anos de 1756-1763 e a Guerra contra Napoleão, em 1813.

Foto: Lori/Legion Media

Aqui podem ser encontradas casas únicas feitas de lama, que podem durar mais de um século. As paredes podem resistir a todos os ataques da natureza e sustentam o enorme peso do telhado. Atualmente, moram não mais do que 1.000 pessoas na Berlim dos Urais, que se ocupam da agricultura. Uma das atrações locais é o "Muro do Berlim”.

O castelo e a montanha franceses

Outro ponto "europeu" interessante se encontra a 2 km a noroeste da aldeia de Naila, na região da cidade de Cheliabinsk. Na floresta da chamada “Colina Francesa” encontram-se as ruínas do "Castelo Francês", parte central da fábrica de processamento de amianto, onde, entre 1878 e 1915, uma concessão francesa realizava a exploração dessa fibra mineral no terreno que lhe havia sido atribuído pelo governo do czar para exploração da terra e com direito à exploração de minérios. No mesmo período, os franceses extraíram, de maneira secreta, ouro no rio Miass e o esconderam. A prova disso são os buracos nas paredes do castelo. O resto da fábrica consiste em ruínas e nas crateras inundadas da minas.

Foto: Lori/Legion Media

Na montanha, ainda há uma estrada que leva até o topo. Há também uma escadaria para a floresta e montes de pedras ornamentais. Da montanha abre-se a vista espetacular para o vale do rio Miass e para as montanhas de Ilmen.

Para obter mais informação e receber apoio turístico para viagens ao sul dos Urais pode-se contatar o centro de desenvolvimento turístico da região de Cheliabinsk no endereço http://tourizm74.ru/ (disponível apenas em língua russa), pelo e-mail ogbuk_crt@mail.ru ou pelo telefone + 7 351263 12 24.

 

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