"Quero mudar a situação da dança moderna na Rússia"

Diana Vishneva, 39, é símbolo de balé no mundo todo.

Diana Vishneva, 39, é símbolo de balé no mundo todo.

Irina Tuminene
Uma das mais bem-sucedidas bailarinas da atualidade, Diana Vishneva fala à Gazeta Russa

Diana Vishneva, 39, é símbolo de balé no mundo todo. Ela tem sido a prima ballerina do Teatro Marínski, em São Petersburgo, por mais de 20 anos e, há quase 15, do Teatro Americano de Balé de Nova York. Ela também faz solos, tem seu próprio festival e sai em turnês pelo mundo. A Gazeta Russa conseguiu uma exclusiva com a dançarina um pouco antes das suas apresentações de março.

O que foi mais difícil, manter uma conexão com o Teatro Marínski ou adquirir autonomia dele?

Obviamente, nada foi fácil e simples como parece quando falamos. Tive que lutar pela minha posição no teatro, já que sua organização não favorece o caminho individual. Fatores políticos e econômicos, da mesma forma, não ajudam no caminho individual.

Mas lutei por minhas ideias, defendi-as, discuti e expliquei porque algumas coisas eram necessárias para mim e, no final, consegui uma afirmativa.

Quando eu tinha 20 anos, recebi uma proposta séria por meio do teatro. Mas eles me esconderam isso, e só fui saber muitos anos depois. Agora acho que foi melhor assim. Os períodos de maturidade e de domínio do repertório são muito importantes. 

fOTO:Diana Vichneva. Foto: Divulgação.

Durante a juventude, a bailarina constrói a experiência que durará o resto de sua vida. Apenas o trabalho sistemático na juventude faz dela uma bailarina de primeira classe. E, apesar das oportunidades que surgem na sua frente, você tem que manter a concentração.

Eu tive sorte porque na fase seguinte o diretor do Marínski, Valéri Guérguiev, deixou que eu dividisse minha vida em duas. Ele entende que para a arte da dança, assim como para a da música, uma das referências-chaves é Nova York. Por isso, ele aprovou meu desejo de trabalhar, simultaneamente, em Berlim, com Vladímir Malakhov e, depois, no Teatro Americano de Balé de Nova York.

Essa colaboração bilateral me deu liberdade e possibilidades incríveis para dançar, que eu  nunca teria podido ter na minha terra natal. Minha aparição em Nova York aconteceu em um momento conveniente. Eu já tinha feito um nome e tinha experiência como prima ballerina, e por isso pude trabalhar na trupe e dar uma volta nas regras gerais um pouco. Pude expandir meu repertórios com as perfomances nas quais estava interessada. 

Foto:Diana Vichneva. Foto: Divulgação.

Como você começou com os solos?

Quando os repertórios em ambos os teatros estavam exaustivos, eu pensei em fazer projetos individuais. Apesar de sua natureza criativa, eles precisam do apoio de um produtor sério. Para mim, isso significa a [agência de artistas] Ardani Artist.

Eu venho trabalhando com seu diretor, Serguêi Danilian desde quando ele recebeu, junto comigo, o prêmio Benois de la Danse, em 1995.

Serguêi inspirou-se com a minha ideia, ela o encorajou. Mas é um caminho perigoso e tortuoso. Eu tinha muita experiência, sabia que estava interessada na performance. O desfio está em convencer o coreógrafo a colaborar com você, já que eles estão acostumados a trabalhar com teatros, não com bailarinas individuais. 

Você  faz tudo isso sozinha ou tem assistentes?

A história com William Forsythe, que aconteceu durante a apresentaçãoo de seus balés no Marínski, ensinou-me uma grande lição. Agora, eu só falo pessoalmente com os coreógrafos.

Mas, claro, quando a gente finalmente concorda em fazer alho, então minha equipe aparece. Principalmente quando não tenho subsídio governamental, alguém tem que tomar conta da parte organizacional do trabalho. Foi assim que pensei em criar minha própria fundação, que tornou-se um dos instrumentos para trazer minhas ideias para o mundo real.

FotoDiana Vichneva. Foto: Divulgação.

Você é uma das poucas bailarinas clássicas a começar a realizar dança moderna no auge da sua carreira e não para retardar a aposentadoria. Como chegou a isso?

O mais importante é evitar extremos: "Hoje eu danço os clássicos, mas um dia dançarei dança moderna", Não funciona assim. Não tendo a educação clássica de 8 anos, uma pessoa nunca será capaz de dançar os clássicos.

Por outro lado, as pessoas com educação clássica serão capazes de dançar a dança moderna. Você só precisa fazê-lo cedo e gradualmente, evitando danos excessivos.

Mas tmbém é importante aquilo a que leva seu currículo. O resultado nunca foi uma prioridade para mim. O que eu mais valorizo é o processo criativo. Claro, há uma bailarina em mim que, quando de cara com a dor, o trabalho duro e tudo o que o corpo repele, diz: "Você não precisa disso, dance só sua Giselle".

E, então, eu preciso cultivar, domesticar e transformar essa bailarina. Quebrá-la é muito doloroso. Dizem que a rotina física do balé é como a de um mineiro. 

fOTODiana Vichneva. Foto: Divulgação

O balé clássico tem muitos critérios severos para determinar a qualidade. Quais são seus pontos de referência em uma coreografia moderna?

Com meu perfeccionismo, é importante para mim não me mostrar, mas dominar o estilo e a linguagem do coreógrafo. Depois de nossa colaboração, Edouard Lock me disse que eu precisava ser exibida como um exemplo do 'estilo Edouard Lock'. Esse é o resultado mais importante para mim. Para alcançá-lo, você precisa começar cedo e mover-se gradualmente.

Recentemente, você fez as honras a sua professora Liudmila Kovaliova no Teatro Marínski e, em  breve, você terá toda uma série de performances em São Petersburgo. O que mais você gostaria de fazer?

Eu continuo o repertório clássico no Marínski e no teatro de Nova York. Há alguns anos, fundei meu próprio festival, o 'Context. Diana Vishneva', onde também sou diretora artística. Isso toma muito tempo e energia de mim.

O festival tem o intuito de desenvolver a dança moderna na Rússia e dá uma chance a jovens dançarinos. Esse projeto me interessa muito, gosto de trabalhar nele, acumular experiência organizacional e gerencial e ver que estamos contribuindo para mudar a situação da dança moderna na Rússia.

Tenho prazer de ver que os coreógrafos que participaram do meu projeto são agora conhecidos na Rússia, que estão trabalhando. Penso nas minhas futuras performances e busco pessoas com quem gostaria de trabalhar e desenvolver mais coisas.

Tenho agora propostas para tentar o trabalho gerencial e as estou considerando. Outro problema são as relações entre os teatros. É impossível me dividir em muitas. Mas eu tenho um passado que vale a pena todos os esforços que coloco, e tenho também um presente.

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