Por que Bella Akhmadúlina era tão amada na URSS?

Para crítico, Bella "tinha também a aparência exterior de uma prima donna de fin-de-siècle".

Para crítico, Bella "tinha também a aparência exterior de uma prima donna de fin-de-siècle".

Iúri Pilipenko/Global Look Press
Poetisa da geração dos anos 1960 é uma das figuras mais incomuns e carismáticas, e completaria 80 anos nesta segunda-feira (10).

A morte recente de Evguêni Ievtuchenko não apenas colocou um ponto final na safra dos anos 1960 de poetas soviéticos, como também colocou o último “poeta de estádio”, como ele era chamado, de volta no centro das atenções.

A dor da perda recente, porém, não apaga o aniversário de outra representante dessa geração, a poetisa Bella Akhmadúlina, que completaria 80 anos nesta segunda-feira (10). Bella era, sem exageros, a poetisa mais amada e fora do comum da década de 1960.

O fato de seu nome ser relembrado frequentemente com o de Ievtuchenko, Andrêi Voznessênski e Robert Rojdêstvenski, como artistas do mesmo nível é inevitável e injusto.

Inevitável porque Bella realmente participou, desde a juventude, das lendárias “noites de poesia no Museu Politécnico” e dos ainda mais lendários concertos no estádio Lujniki.

Mas injusto porque, diferentemente de Ievtuchenko, o qual se pode chamar, sem ironia, “poeta-cidadão”, Akhmadúlina sempre se manteve como uma poeta lírica vivendo em um mundo sem a “ostentação” civil, mas da alta paixão pela ópera.

Não por acaso, ela tinha também a aparência exterior de uma prima donna de fin-de-siècle, com sua grandeza no palco e modo completamente indefeso no dia a dia.

Por isso, os “cidadãos comuns soviéticos”, inclusos aí também escritores bem-sucedidos, a viam com perplexidade e admiração. 

Isso é provado pelas memórias de seus contemporâneos e, na atualidade, por entrevista concedida por sua filha, Elizaveta Kulieva, uma dama de carne e osso e com os pés na Terra que trabalha no ramo do marketing.

Parecia que o espírito do “Século de Prata” tinha ressuscitado nessa “aristocrata soviética”, filha do vice-ministro e tradutora da ONU (o que significava, mais provavelmente, uma agente da KGB),  além de sobrinha-neta de um amigo pessoal de Lênin que está enterrado junto ao muro do Kremlin.

E, junto aos poemas líricos intensos, que se cravam na memória imediatamente, e nos quais aparecem personagens de épocas passadas e ecos de sentimentos passados, esse espírito se manifesta naturalmente. 

Não é uma pose construída conscientemente ou  um “jogo da décadence”, como muitos dos versos de Anna Akmátova e Marina Tsvetáieva.

Ela não parecia. Ela era. Esse “segredo do sucesso” é muito simples. Mas como são poucas agora as pessoas, mesmo entre artistas, capazes de fazê-lo acontecer!

Mikhail Vizel é pesquisador-associado do Brookings Insitute, em Washington. Entre 1993 e 1998, foi vice-ministro das Finanças e vice-presidente do Banco Central da Rússia.

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