Cinco curiosidades sobre o duelo fatal de Púchkin

 "Duelo de Aleksandr Púchkin com Georges d'Anthès", de Aleksêi Naumov, 1884.

"Duelo de Aleksandr Púchkin com Georges d'Anthès", de Aleksêi Naumov, 1884.

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A trágica morte do poeta russo se tornou um mito na cultura russa — todas as gerações e classes sabem essa história que completa 187 anos neste sábado (10).

A maioria dos russos vão dizer que sua fruta favorita é a maçã, e seu poeta predileto, Púchkin. Literalmente todos no país, independentemente do grau de escolaridade, sabem que o mais famoso poeta russo morreu sofrendo durante um duelo – e perdoando todos os seus agressores. Este sábado (10) marca o 187º aniversário do dia em que o fundador de uma nova linguagem literária russa morreu por uma mulher.

1. Dois convites para duelo

Púchkin era um homem impulsivo e havia estado em muitos duelos. Sua luta fatal se deu na segunda vez que desafiou Georges d'Anthès, oficial francês da Guarda Russa, que havia supostamente ferido sua honra.

A primeira ocasião foi em novembro de 1836, depois de o poeta receber um pasquim anônimo chamado “Certificado de Chifrudo”, que continha uma alusão à infidelidade de sua esposa, Natália Gontcharova. Na época, havia boatos em São Petersburgo de que o tsar Nicolau 1º nutria profunda admiração por Gontcharova, mas, por razoes óbvias, Púchkin não podia desafiar o governante supremo do país, então se satisfez com o segundo provável amante: d'Anthès. Mas, como o francês propôs casamento a Ekaterina Gontcharova, cunhada de Púchkin, o poeta desistiu do desafio.

D'Anthès foi responsável pela morte de Púchkin.

Logo após o casamento de D'Anthès e Ekaterina, mais fofocas sobre a família de Púchkin começaram a circular na sociedade, e o poeta, pensando novamente que Heeckeren estava por trás disse, escreveu-lhe uma carta bombástica. Nela, Púchkin usou observações desagradáveis, tanto em relação ao embaixador quanto ao seu filho adotivo. Heeckeren anunciou então que o convite de Púchkin ainda estava em pé.

2. As duras condições do duelo

O duelo ocorreu em Tchernaia Retchka (Rio Negro), nos arredores de São Petersburgo, e sob condições extremas. Em outros países europeus, os duelistas geralmente disparavam entre si a uma distância de 25 a 30 passos, mas neste caso a distância era de apenas 10 passos.

D'Anthès atirou primeiro e feriu seriamente Púchkin no estômago. O poeta caiu no chão, mas ainda assim foi capaz de atirar contra o adversário, que sua mão direita foi atingida. Púchkin, porém, morreu dois dias depois.

3. A reação do imperador

Os duelos estavam proibidos na Rússia desde o tempo de Pedro, o Grande e, portanto, a disputa entre Púchkin e D'Anthès aconteceu em segredo. A punição por participar deles era grave e, às vezes, podia resultar até em morte.

Em seu leito de morte, porém, Púchkin conseguiu, por meio do médico do tsar, que Nicolau 1º perdoasse seu padrinho, Konstantin Danzas. Este último ficou preso por apenas dois meses na Fortaleza de São Pedro e São Paulo.

Além disso, o tsar garantiu o futuro da família do poeta: pagou as dívidas de Púchkin, ordenou que a família recebesse um subsídio fixo de 10.000 rublos, pagava pensão à viúva e suas filhas, e tomou os filhos do poeta como escudeiros.

Quanto a d'Anthès, Nicolau 1º tirou seu título militar e o exilou da Rússia. Ele foi acompanhado por sua esposa, a cunhada de Púchkin, e o casal teve quatro filhos. Segundo um contemporâneo, o francês costumava dizer que ser exilado da Rússia lhe permitiu ter uma “brilhante carreira política” em seu país natal.

4. A Helena de Troia russa

Algumas pessoas acham que Natália Gontcharova foi, de certo modo, responsável pela morte do marido, já que foi incapaz de (ou não queria) acabar com os rumores que a ligavam a D'Anthès. A poeta Anna Akhmátova a chamou de “cúmplice dos Heeckerens na construção do duelo”, enquanto Marina Tsvetáieva a descreveu como “bela e nada mais, apenas beleza, sem cérebro, alma, coração, sem qualquer talento”.

Retrato de Gontcharova.

Após a Segunda Guerra Mundial, duas das cartas de D'Anthès de 1836 foram publicadas em Paris. Nelas, ele fala sobre sua paixão pela “mais maravilhosa criação de São Petersburgo”, diz que ela sente o mesmo e que seu marido está “furiosamente ciumento”. Nas correspondências, entretanto, o francês deixa claro que sua amante não estava pronta para “quebrar o compromisso” com seu marido.

Não existe consenso sobre essas cartas, e alguns pesquisadores garantem que d'Anthès não escrevia sobre Gontcharova.

5. Púchkin, o Duelista

Acredita-se que o poeta tenha feito mais de 20 desafios para duelos – e recebeu outros sete. Quatro desses resultaram em duelos de fato, mas grande parte dos outros foram evitados graças aos amigos de Púchkin.

Seu primeiro desafio foi feito quando ainda tinha apenas 17 anos. Ele ficou ofendido por seu tio, Pável Gannibal, roubar a garota com quem estava dançando numa festa. Ambos rapidamente fizeram as pazes, e o duelo não vingou.

Embora fosse reconhecido como um atirador experiente, Púchkin nunca disparou primeiro em seus duelos e derramou o sangue de seu adversário somente uma vez: em seu confronto final com d'Anthès.

LEIA TAMBÉM: 'A Dama de Espadas' de Aleksandr Púchkin: um breve resumo

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