Quarteto tem destaque em nova safra de tradutores

Da esq. para a dir., Lucas Simone, Cecília Rosas, Graziela Schneider e Francisco Araújo

Da esq. para a dir., Lucas Simone, Cecília Rosas, Graziela Schneider e Francisco Araújo

Fernando Pastorelli
Trintões - e trintinhas - já se destacam na tradução literária direta do russo, por muito tempo concentrada nas mãos de pioneiros.

Por trás do cabelo longo, que juntamente com uma barba e bigode enormes lhe conferem ar de viking metaleiro, Lucas Simone estampa as capas de alguns clássicos russos. Clássicos da literatura, claro. É que o rapaz é um dos mais proeminentes na nova geração de tradutores da língua.

Aos 33 anos, a maior parte vividos na Vila Buarque, o doutorando da USP já verteu Górki, Dostoiévski e Chalamov para o português.

Tudo começou quando, aos 15 anos, foi levado por uma tia à União Cultural Pela Amizade dos Povos, entidade fundada nos anos 1960 para servir de ponte com a URSS e ensinar o idioma russo.

Os estudos foram continuados mais tarde com uma pesquisadora russa da USP, quando ele já cursava história ali. Foi ela, Tatiana Lárkina, que, algum tempo depois, apresentou-o à Editora Hedra, onde Lucas publicaria sua primeira tradução: “A velha Izerguil e outros contos”, de Maksim Górki.

Dali para frente, verteria direto do russo diversos outros títulos, entre eles “Memórias do Subsolo”, de Fiódor Dostoiévski.

“É um texto quadrado, cheio de arestas, e muito atual. Por isso usei uma linguagem muito contemporânea, que foi o diferencial da minha versão”, explica.

Russos coloridos

Trazer os russos para o leitor brasileiro é tarefa tão árdua que Graziela Schneider criou um método próprio para executá-la: colorindo o texto. Literalmente.

Aos 37 anos, a tradutora e professora da UFRJ usa o recurso para ressaltar, por exemplo, as marcas de Nabokov, seu principal objeto de estudo: azul para a infinidade de palavras repetidas, roxo para sinônimos e assim por diante.

“Meu ideal é que todas as palavras repetidas por Nabokov, conscientemente ou não, continuem repetidas em português”, explica.

Foi já cursando letras na USP que Graziela se apaixonou pelo russo. “Meu entusiasmo aumentou quando passamos a ter aulas com uma cubana, quando a gente mal sabia o alfabeto, e ela já partiu para a conversação, aquele desconhecido”, conta.

De lá para cá, já publicou traduções de Maiakóvski e Tolstói, e hoje continua a se debruçar sobre a obra de Nabokov. A tarefa é ingrata, já que as perspectivas para publicação são para daqui a 32 anos, quando cairão seus direitos autorais.

Mar de rosas

O infortúnio dos direitos não é dividido com a brasiliense Cecília Rosas, 33, que passa mais tempo entre São Paulo e Buenos Aires que na cidade natal. Ainda durante o mestrado, a tradutora verteu contos de Aleksandr Púchkin, o grande poeta nacional russo, que logo foram à prensa pela Hedra.

“Quanto mais gente, melhor, tem mercado. E é maravilhoso ter várias traduções de uma obra”, diz Cecília

Filha de funcionários públicos, ela decidiu que queria trabalhar com línguas muito cedo, ainda lá pelos 12 anos. Mas o russo foi uma surpresa para ela mesma.

“Comecei a me interessar cada vez mais, e aquilo foi crescendo com a poesia moderna”, conta. Hoje no doutorado da USP, pesquisa a correspondência de Marina Tsvetáeva e Boris Pasternak, autores sobre os quais também se debruça na editora 34.

Depois de Púchkin, Cecília publicou ainda traduções de contos de Turguênev, textos para a Antologia do Pensamento Crítico, Dostoiévski e tem no forno um dos volumes de Varlam Chalamov que estão saindo gradualmente pela 34.

Pronto para debutar

Também com um volume de Chalamov pronto para sair em janeiro de 2016 está o tradutor fortalezense Francisco Araújo, 37. Intérprete de Vladímir Sorokin na Flip de 2014, Francisco diz que o jargão da gulag representou um desafio maior que o estilo do escritor em si.

“Chalamov é seco, tem frases curtas que é um equívoco juntar, como fazem muito os franceses e anglofalantes”, explica.

Mestrando na USP, o tradutor também já verteu para o português “Vontade de Ferro”, de Nikolai Leskov, que está na esteira de lançamentos russos de 2016.

O que vem por aí...

Apesar do boom gerado a partir da publicação de ‘Crime e Castigo’, em 2001, ainda são raros os jovens vertendo literatura russa no Brasil. Enquanto o terreno, antes monopolizado pelos pioneiros, passa a ter habitués de uma nova geração, na faixa dos quarenta, como Denise Sales, Sônia Branco, Nivaldo dos Santos e Irineu Franco Perpétuo, já despontam os profissionais que sucederão o quarteto da mais nova safra. “As promessas são muitas: Priscila Marques, Raquel Toledo, Paula Vasquez, Letícia Mei, Yulia Mikaelian, Mariana Reis...”, diz Cecília Rosas, da 34. Graziela Schneider, da UFRJ, aponta ainda para Daniela Mountian, da editora Kalinka.

 

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