Quando a URSS vendeu vodca e frota militar à Pepsi

A Pepsi tornou-se o primeiro produto ocidental vendido na URSS.

A Pepsi tornou-se o primeiro produto ocidental vendido na URSS.

AP
Parece título de comédia norte-americana. No entanto, o Russia Beyond reconta hoje a verdadeira história de como a Pepsi tornou-se o primeiro produto ocidental a ser fabricado na União Soviética...além de dona de parte da frota de guerra soviética.

Em 1959, o então presidente dos EUA Dwight David Eisenhower queria que os cidadãos soviéticos soubessem em primeira mão como era o estilo de vida americano e os benefícios do capitalismo em relação ao regime comunista. Foi então que o governo dos EUA organizou em Moscou a “Exposição Nacional Americana” e enviou o então vice-presidente Richard Nixon para representar Washington.

Nixon e o líder soviético Nikita Khruschov se encontraram na exposição. Enquanto observavam as últimas tecnologias e produtos de consumo americanos, começaram uma discussão sobre os benefícios do comunismo e do capitalismo. A conversa acalorada, além do clima quente de julho, fez Khruschov suar. Percebendo isso, Donald M. Kendall, que era na época vice-presidente de marketing da Pepsi, ofereceu um copo de Pepsi para o líder soviético – e a foto tirada nesse exato instante deu a volta ao mundo, tornando-se a melhor propaganda para a Pepsi.

Khruschov experimenta Pepsi pela primeira vez

Pepsi por vodca

Treze anos mais tarde, em 1972, Donald Kendall, que havia se tornado presidente da Pepsi desde 1963, continuava tentando emplacar o refrigerante no mercado soviético. Nixon, que já se tornara presidente, usou seus contatos para chegar a um acordo comercial que permitisse exportar a bebida norte-americana para a União Soviética.

Quando o acordo estava praticamente assinado, surgiu uma importante questão: Como a União Soviética poderia para pagar a Pepsi? O regime soviético não tinha acesso a moeda estrangeira, e o rublo não pode ser negociado no mercado internacional.

A solução, portanto, era realizar o pagamento com vodca. O governo soviético possuía grandes estoques da bebida, porque a maioria das marcas eram estatais. A escolhida, enfim, foi a Stolichnaya, que havia sido criada em 1901 seguindo a receita concebida pelo químico russo e inventor da tabela periódica Dmítri Mendeleiev.

Além de inusitado, o acordo era histórico: a Pepsi tornou-se o primeiro produto ocidental vendido na URSS. Além disso, a empresa passou a ser a importante exclusiva da famosa vodca Stolichnaya no mercado estadunidense. 

Pepsi e sua frota de guerra

Em 1989, o acordo inicial entre a Pepsi e a URSS estava prestes a expirar, e foram iniciadas as negociações para a assinatura de um novo documento. Na época, a Pepsi já tinha mais de 20 fábricas locais que engarrafavam a bebida para distribuição.

O novo acordo comercial pressupunha um custo de quase 3 bilhões de dólares, e era evidente que só a vodca Stolichnaya não seria suficiente para cobri-lo. A União Soviética ainda tinha dificuldade para trocar rublos nos mercados internacionais e, por isso, teve que encontrar um novo método alternativo de pagamento.

A liderança soviética veio então com mais uma solução: se nos anos 1990, havia vodca em excesso, na década de 1980 o país tinha herdado diversos equipamentos militares da época da Guerra Fria. Foi então que a União Soviética ofereceu pagar a Pepsi com uma frota de embarcações a diesel. A empresa, por sua vez, aceitou o acordo porque sabia que era a única maneira de continuar a vender a bebida na URSS.

Submarino russo PZS-50

O acordo incluiu 17 submarinos, um cruzador, uma fragata e um contratorpedeiro, que foram vendidos a uma empresa sueca de sucata. Os submarinos vendidos fizeram a Pepsi se tornou, durante os dias em que a venda foi negociada com os suecos, a sexta maior potência militar do mundo em número de submarinos a diesel.

Diante do acordo, o então presidente da Pepsi, Donald Kendall, teria dito brincando ao assessor de segurança nacional dos EUA, segundo o blog ‘La Aldea Irreductible’: “Estamos desarmando a URSS mais rápido que vocês”.

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