São Paulo e Porto Alegre recebem mostras da Mosfilm

Cópia completamente restaurada em 2015 de “Aleksandr Nevsky” (1938) abre mostra.

Cópia completamente restaurada em 2015 de “Aleksandr Nevsky” (1938) abre mostra.

kinopoisk
Em sua terceira edição, evento que traz joias do cinema russo e soviético estendeu raio de atuação para o Sul do país.

Uma cópia restaurada do clássico “Aleksandr Névski”, de Serguêi Eisenstein (1898-1948), abre, na próxima terça-feira (22), a 3° Mostra Mosfilm de Cinema, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.

Realizado pela CPC-UMES, e contando, em 2016, com o apoio da Gazeta Russa, o evento traz às telonas em São Paulo, até dia 27, dez filmes russos com entrada franca - incluindo a obra-prima “Solaris”, de Andrêi Tarkóvski (1932-1986).

Quase simultaneamente, a mostra acontece também em Porto Alegre, na Casa de Cultura Mário Quintana, de 24 de novembro a 3 de dezembro.

“É uma programação muito especial, na qual há duas categorias de filmes. A primeira, daqueles que pertencem aos clássicos do cinema mundial: Eisenstein, Dovjenko, Tchukhrai, Tarkóvski. A segunda, dos filmes importantes ou característicos de um período determinado do desenvolvimento do cinema russo, ou seja, o soviético”, explica o historiador do cinema Andrêi Plákhov, colunista do jornal "Kommersant" agraciado em 2014 com o Certificado de Honra da Presidência da Rússia.

“Destaco dois filmes na programação pouco conhecidos fora das fronteiras da Rússia, mas muito interessantes: 'Cossacos do Kuban' e 'Um Acidente de Caça'. O primeiro, de 1949, dirigido por Ivan Piriev, é sobre dois kolkhozes que competem para ver quem consegue colher mais trigo e uma amostra do cinema soviético de propaganda do gênero de entretenimento musical, que ecoa claramente seus análogos hollywoodianos. O segundo, de 1978, é dirigido por Emil Loteanu, e baseado em Tchékhov. O melodrama da vida pré-revolucionária faz parte do gênero que dava ao cinema soviético a possibilidade de escapar um pouco das garras da ideologia”, explica Plákhov.

Outro item destacado pelo crítico é “O Conto do Czar Saltan” (1966), em que Aleksandr Ptuchkó (1900-1973) adapta para as telas o conto mágico do “pai fundador” da literatura russa, Aleksandr Púchkin (1799-1837).

“É muito útil assistir ao filme de Ptuchkó para compreender o alto nível técnico e criativo dos estúdios de cinema soviético. Seus filmes foram estudados, por exemplo, por Coppola”, conta.

Distribuição dominada

Para o crítico de cinema Sérgio Rizzo, esses nomes não são conhecidos por aqui devido a questões específicas da distribuição de filmes no Brasil.

“A cinematografia russa é uma das muitas vítimas da incapacidade do circuito exibidor brasileiro de dar conta da diversidade da produção cinematográfica mundial", diz.

"Sob domínio de grupos de distribuição americanos e de acordo com uma lógica perversa que reduz terrivelmente o espaço para filmes que não tenham grande potencial de público, nosso parque exibidor oferece ao público uma 'dieta McDonald's'. Fora os EUA, a França talvez tenha sido nos últimos anos o único país cujo cinema chega de maneira um pouco mais ampla ao Brasil, ainda que de forma proporcionalmente tímida em relação ao conjunto de sua produção anual”, explica.

Jornalista, professor e apresentador do canal Arte 1, Rizzo vê, como óbvia consequência dessa 'dieta McDonald's', uma “lacuna gigante” que, “ além do cinema, se estende também aos mercados de DVD, Blu-ray e streaming”, cabendo  a mostras e retrospectivas a função de trazer ao Brasil uma amostragem minimamente representativa da produção de fora dos EUA.

O clássico "Solaris" (1972), que compõe programação / kinopoiskO clássico "Solaris" (1972), que compõe programação / kinopoisk

“Nesse caso específico, a tarefa reveste-se de importância maior porque há muitas décadas o cinema russo é um grande desconhecido, mesmo do público brasileiro que frequenta as salas de cinema autoral. O 'bloqueio' é quebrado ocasionalmente apenas por filmes como 'Leviatã', por conta de sua indicação ao Oscar. Grandes marcos na história do cinema russo, e também de outras repúblicas que formavam a URSS, são desconhecidos de novas gerações”, diz Rizzo.

Presidente do CPC-UMES, Gabriel Alves explica que, para ajudar a preencher essa lacuna na recepção do cinema russo no Brasil, a mostra foi pensada como o "panorama mais amplo possível", abarcando produções que vão de 1928 a 2002.

Mesmo no caso de um títuo consagrado como “Aleksandr Névski”, a novidade está na versão que será exibida. “É a primeira vez que poderemos ver, no Brasil, essa cópia, que passou por um restauro cuidadoso no Mosfilm”, explica Alves.

Criado em 1923, o Mosfilm é um estúdio cuja história se confunde com a do cinema russo. Na época do fim da URSS, tinha produzido mais de três mil filmes, e conseguiu superar a crise dos anos 1990 para chegar aos dias de hoje ativo e atuante, graças aos esforços do cineasta Karen Chakhnazarov, que preside o estúdio desde 1998, e está representado na mostra pelo filme “Noite de Inverno em Gagra” (1985).

Além de realizar as mostras dedicadas ao acervo do estúdio, o CPC-UMES vem lançando em DVD produções do Mosfilm no Brasil desde 2014.

O catálogo inclui títulos que serão exibidos no evento, como “O Quadragésimo Primeiro” (1956), de Grigóri Tchukhrái, e o consagrado “Solaris” (1972) – lançado no mês passado em caprichado DVD duplo, em versão restaurada em alta definição, acompanhada de duas horas de vídeos extras.

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