Diretora da ‘Estrangeira’, Ekaterina Guênieva morre aos 70 anos

Diretora da ‘Estrangeira’, Guenieva não se limitou ao trabalho confinado em bibliotecas Foto: Artiom Jitenev/RIA Nóvosti

Diretora da ‘Estrangeira’, Guenieva não se limitou ao trabalho confinado em bibliotecas Foto: Artiom Jitenev/RIA Nóvosti

Filóloga e expert em literatura inglesa dedicou 43 anos de vida a uma das maiores bibliotecas da Rússia.

Depois de uma luta prolongada contra um câncer, morreu nessa quinta-feira (9), em Israel, a filóloga e especialista em literatura inglesa Ekaterina Guênieva, que dedicou 43 anos à Biblioteca Estatal Russa de Literatura Estrangeira.

“Ela era invulgarmente instruída, uma pessoa talentosa. Mas a sua atividade não se limitou nunca ao trabalho confinado em bibliotecas. Ela fez de tudo e mais alguma coisa: traduzia e publicava livros de autores ingleses e organizava constantemente eventos literários”, disse à Gazeta Russa Vladimir Voinovitch, amigo pessoal de Guenieva e o autor do romance “A Vida e as Extraordinárias Aventuras do Soldado Ivan Tchonkin”, traduzido para muitas línguas.

A energia e carisma de Guênieva foram apontados por colegas desde a gestão da biblioteca, passando pelo trabalho na liderança da fundação beneficente Soros na Rússia, até as reuniões da Comissão da Rússia para a Unesco e na Federação Internacional de Bibliotecas.

No ritmo da perestroika

Em meados dos anos 1980, Guênieva foi uma das figuras que apoiou fortemente a perestroika e as reformas de Gorbatchov.

Próxima do então ministro das Finanças e vice-premiê, Egor Gaidar, figura pública do governo Iéltsin, a literata acompanhou de perto a doença do amigo, e após a sua morte, ocupou-se de preservar a sua memória: teve até a iniciativa de erguer um monumento em sua homenagem.

Nessa época, dedicava-se com entusiasmo ao estudo da literatura inglesa; além de artigos, passou a trabalhar com tradução. Foi durante esse período que também começou a atuar ativamente nas atividades da biblioteca estatal.

A Rússia atravessava um momento difícil – era um tempo de mudanças globais marcantes. Na biblioteca, ela se tornou a presidente do conselho da equipe de trabalho e, pouco depois, esse grupo começou a tomar as decisões importantes no lugar da administração da biblioteca.

Quando o renomado filólogo Viacheslav Ivanov foi nomeado para o posto de diretor da biblioteca, ele imediatamente convidou Guenieva para ser sua vice. Paralelamente, assumiu a direção da Fundação Soros, recém-chegada à Rússia, contribuindo para a preservação de muitos monumentos históricos, culturais e literários do país.

“Já nos anos 1990, apresentei a Kátia [diminutivo de Ekaterina] um projeto que parecia uma loucura – a criação de um dicionário de dados da literatura russa contemporânea. Isso não tinha relação direta com a minha revista nem com as atividades dela. Mas ela me escutou e disse: ‘Como é que não tem relação? Se não for eu, então vai ser quem?!’”, conta Serguêi Tchuprinin, redator-chefe da “Známia”, uma das mais antigas revistas literárias da Rússia.

“Ela cumpria suas funções com grande honestidade e dedicação. E levava tudo até o final. Como aquele dicionário, que, apesar de tudo, editamos juntos.”

Estrangeira

Diante de tantas realizações, é difícil listar todos os méritos e distinções culturais de Guênieva. Mas não se pode negar sabe-se que sua principal vocação e orgulho era a Biblioteca Estatal Russa de Literatura Estrangeira M.I. Rudomino, popularmente conhecida como “a Estrangeira”.

Só na biblioteca, Guênieva dedicou-se por 43 anos, dos quais 22 como diretora. Dela partiu a iniciativa de vários traduções de autores estrangeiros para a língua russa, além de ter cuidadosamente preservado e aumentado o patrimônio literário da biblioteca.

Fiel à “a Estrangeira”, Guênieva, mesmo em tempos difíceis, foi capaz de defender a posição da biblioteca no cenário cultural do país – seguindo os passos da fundadora, Marguarita Rudomino, que abriu a biblioteca em 1922 e conseguiu manter a maior parte das obras da biblioteca e livros proibidos durante a era soviética.

Hoje, a biblioteca armazena mais de 5 milhões de exemplares em 144 línguas. E, no seu acolhedor pátio, os visitantes são recebidos pelos bustos de pessoas, cuja memória Ekaterina Guênieva quis ali perpetuar. São pessoas que ela considerava gênios, com quem sonhava se encontrar todos os dias e que gostaria de apresentar a todos os seus leitores: Abraham Lincoln, João Paulo II, Charles Dickens, James Joyce e Heinrich Heine, entre outros.

 

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