Uma saída tanto para o mar, como para a Rússia

Estaleiro ainda é o maior empreendimento industrial de São Petersburgo Foto: RIA Nóvosti

Estaleiro ainda é o maior empreendimento industrial de São Petersburgo Foto: RIA Nóvosti

Como os estaleiros do Almirantado de São Petersburgo se tornaram o berço da Marinha nacional.

Até o início do século 18, a Rússia não possuía Marinha por motivos objetivos: o país não tinha livre acesso ao mar nem tecnologias para tal. O resultado desses atraso? O isolamento do país. Sem navios não era possível praticar o lucrativo comércio por vias marinhas, e muito menos competir com os países europeus, donos de poderosas frotas. Esse foi o fato decisivo para o tsar Piotr I estabelecer o ambicioso objetivo estratégico de conseguir uma saída para o mar Báltico, que não chegava a congelar, e criar uma Marinha para proteger os interesses da Rússia naquela região.

Em 1703, depois de violentos combates com o Exército sueco, as tropas de Piotr I avançaram até o cobiçado mar Báltico, perto da foz do rio Neva. Em frente a eles se abriu um território absolutamente virgem, no qual cabia à Rússia se consolidar e dar início à construção naval. Em maio do mesmo ano, o tsar fundou uma nova capital – a cidade de São Petersburgo.

Além das funções inerentes de qualquer capital, o mais importante era torná-la o berço da frota russa. No ano seguinte, em uma área arborizada na margem esquerda do rio Neva, Piotr I fundou o primeiro estaleiro russo permanente, que ganhou um nome estrangeiro bastante em moda na época: Casa do Almirantado. Naquele empilhado de carreiras navais, erguidas no meio do arvoredo, poucos conseguiram vislumbrar a futura empresa de construção naval que se tornaria uma das maiores do mundo.

Os trabalhos no Almirantado foram se desenvolvendo em ritmo acelerado. Inicialmente eram construídas ali pequenas embarcações como galeras e xavecos. Porém, em 1709, com a participação ativa do tsar, foi construído o primeiro encouraçado russo, o Poltava, armado com 54 canhões. Quinze anos depois, foi a vez de um camponês chamado Nikonov projetar e construir o protótipo do primeiro submarino.


Pintura de Iúri Kuchévski retrata descida da galera "Printsipium", em abril de 1696 Foto: Divulgação

No século 18, o Almirantado funcionava pelo princípio de produção em série. Um atrás do outro, iam saindo dos estaleiros navios de todas as classes. O trabalho era feito a um ritmo intenso, e não apenas devido às constantes guerras travadas pela Rússia no mar Báltico. Acontece que a vida útil de uma embarcação construída na foz do rio Neva não excedia os 10 anos por causa do teor relativamente baixo de sal nas águas do Báltico próximas à região costeira de São Petersburgo.

Guinada russa

Entre o final do século 18 e o início do 19 começou uma nova era na história dos estaleiros do Almirantado: mestres britânicos fundaram em São Petersburgo oficinas de fusão e fundição, que passaram a fazer parte do Almirantado. Em 1815, um dos britânicos, chamado Charles Baird, construiu ali o primeiro navio a vapor russo.

Até meados do século 19, os estaleiros continuaram se especializando na construção naval em madeira, mas, a partir da década de 1860, deu-se a guinada final que levaria à produção de embarcações de metal. Em 1865 saiu dos estaleiros a primeira bateria flutuante blindada russa; em 1871 surgiu o encouraçado Novgorod, para defesa costeira; e em 1877, o primeiro destróier marítimo Vzriv (Explosão) e o encouraçado Piotr Veliki (Pedro, o Grande), então considerado o navio mais potente do mundo.

Na onda das guerras

O início do século 20 ficou marcado por construções grandiosas nas instalações do Almirantado. Entre 1909 e 1914 foram ali construídos os maiores navios da história da Marinha russa: os encouraçados Poltava e Gangut. No total, até 1917, os estaleiros do Almirantado forneceram à Marinha cerca de 1.000 embarcações, das quais quase 170 foram grandes navios à vela e encouraçados.

Depois da Revolução de 1917, o nome da fábrica foi alterado para Andre Marty, em homenagem ao comunista francês – com isso, o perfil de produção também sofreu mudanças. A era das épicas batalhas marítimas no Báltico ficou para trás. Aumentou drasticamente a importância dos submarinos, que, sozinhos, conseguiam operar na retaguarda do inimigo.

Até a Grande Guerra Patriótica, como é conhecida a Segunda Guerra Mundial na Rússia, o estaleiro construiu 70 submarinos de diferentes classes. Durante o conflito, e mesmo sob os efeitos do cerco a Leningrado (atual São Petersburgo), o Almirantado continuou a sua produção e entregou outros sete submarinos à Marinha.

Depois de 1945, os estaleiros do Almirantado passaram a dominar a produção de navios para a frota civil: navios-cisternas, traineiras da pesca e fábricas flutuantes de preparação de peixe, além de navios de pesquisa. Em 1959, saiu dos estaleiros o primeiro quebra-gelo nuclear do mundo – o Lênin.

Até hoje, o estaleiro continua sendo o maior empreendimento industrial de São Petersburgo. Nas suas instalações são construídos submarinos, incluindo nucleares, bem como uma vasta gama de embarcações civis, desde rebocadores até veículos de investigação para grandes profundidades marítimas. Parte dos navios militares são construídos por encomenda de nações estrangeiras.

 

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