Quem revelou a tragédia dos Romanov?

Interesse pelos detalhes da morte da família real ressurgiu em 1993, após o colapso da União Soviética Foto: RIA Nóvosti

Interesse pelos detalhes da morte da família real ressurgiu em 1993, após o colapso da União Soviética Foto: RIA Nóvosti

Em março de 1917, o tsar russo Nikolai II Romanov abdicou. Algum tempo depois, ele e sua família foram brutalmente assassinados. Mas poucos sabem que foi graças ao investigador Nikolai Sokolov que hoje sabemos o que realmente aconteceu com a família real.

Nikolai Sokolov é uma figura pouco conhecida na história da Rússia. No entanto, foi esse homem que revelou ao mundo a verdadeira história por trás da morte do último tsar russo.

Nascido em maio de 1882, formou-se em Direito e, antes da Revolução de 1917, Sokolov trabalhava como investigador forense. Após a instauração da URSS, atingiu o cargo de investigador de casos de importância especial no tribunal distrital de Penza, embora se mantivesse fiel ao antigo sistema.

“Depois de entrar em licença médica, Sokolov foi até a Sibéria”, conta  Vladímir Soloviov, investigador e criminologista sênior do Departamento principal de Criminologia do Comitê de Investigação da Rússia, que virou o sucessor de Sokolov, de 1993 a 2011.

“Fui convocado pelo Almirante Alexander Koltchak, que colocou a investigação sob minha responsabilidade”, diz Soloviov. “Mas é evidente que sem as informações de Sokolov, os contemporâneos teriam dificuldades para compreender os acontecimentos daquela época. O seu principal mérito foi provar que a família real foi, de fato, morta a tiros.”

Investigação inicial

Depoimentos e provas levaram Sokolov à conclusão de que o assassinato dos membros da família real aconteceu em 17 de julho. Segundo a investigação, agentes especiais esperavam a entrada do Exército Branco na cidade, portanto, tiraram os corpos da casa de Ipatiev e os levaram para Ganina Yama, onde havia uma mina abandonada.

“Lá o investigador descobriu um grande número de pequenos fragmentos ósseos picados e queimados, coisas e objetos que foram identificados pelas pessoas próximas à família real”, diz a historiadora Ludmila Likova.

Naquela época, Sokolov suspeitou que os corpos haviam sido queimados, mas essa conclusão foi rejeitada. Descobriu-se que, após tentativas frustradas de queimar os corpos, os agentes da polícia secreta os enterraram.

Emigração e morte

O Exército Branco sofreu uma derrota e retirou-se para o leste, mas Sokolov continuou a investigação. “Ele recolheu os documentos de valor, os conservou e levou para fora do país”, conta Likova. Na Europa, os familiares de Romanov não acreditaram no investigador e pensavam que a família real estava viva.

Nos últimos anos de vida, Sokolov preparou um relatório completo da investigação para a Imperatriz Maria Feodorovna, mãe de Nikolai II, e escreveu o livro “O Assassinato da Família Real”, baseado no material da investigação.

Há indícios de que o investigador queria voltar à Rússia para retomar a investigação. No entanto, Sokolov morreu aos 43 anos na França, em 1924.

Novo inquérito

O interesse pelos detalhes da morte da família real ressurgiu em 1993, após o colapso da União Soviética. Documentos relativos ao caso da morte descobertos por Sokolov foram procurados ao redor de todo o mundo.

Em alguns lugares conseguiu-se organizar a transferência das cópias dos materiais; em outros, eles tiveram que ser comprados. O Duque de Liechtenstein, por exemplo, comprou os arquivos de Sokolov em leilão na Sotheby’s e os entregou à Rússia.

Grande parte do material da investigação e os documentos originais também foram encontrados em Jordanville, nos EUA, em Bruxelas e em templos da Igreja Ortodoxa Russa no exterior.

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