Setenta anos depois, o mundo precisa de outra Yalta?

Da esquerda para a direita, Winston Churchill, Franklin Roosevelt e Iossef Stálin Foto: wikipedia.org

Da esquerda para a direita, Winston Churchill, Franklin Roosevelt e Iossef Stálin Foto: wikipedia.org

Nesta semana é celebrado o 70º aniversário da Conferência de Yalta, que serviu de base para a ordem mundial no período após a Segunda Guerra Mundial. Diante dos vários conflitos regionais, alguns dos quais podem atingir dimensão global, seria prudente convocar uma espécie de “Yalta-2”?

Na Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945, três líderes mundiais – o soviético Iossif Stálin, o americano Franklin Roosevelt e o britânico Winston Churchill –, tentaram criar um sistema para evitar novos conflitos militares de escala global. Setenta anos depois do encontro, a questão ainda não parece completamente solucionada.

“Deveria ser organizada uma ‘Nova Yalta’ para tratar de questões de segurança global e encontrar maneiras de resolver os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio”, sugere Mikhail Miagkov, professor no Instituto Estatal Moscovita de Relações Internacionais (Mgimo, na sigla em russo).

“Deveriam participar líderes de países com peso real no mundo, e eles devem chegar a um acordo sobre as regras do jogo nas relações internacionais”, acrescenta o especialistas, destacando que os acordos deveriam ser celebrados em conformidade com os princípios da ONU.

A decisão de criar a Organização das Nações Unidas foi, inclusive, um dos principais resultados da Conferência de Yalta. O plano de criação da ONU fora discutido em dezembro de 1944, mas só em Yalta conseguiu-se chegar a um acordo sobre qual seria a sucessora da Liga das Nações, criada antes da guerra.

Veto contra a maioria

De acordo com Miagkov, o Conselho de Segurança da ONU foi desenhado com base na proposta de Roosevelt de instituir alguns “policiais internacionais”. No início, o conselho seria composto por Estados Unidos, União Soviética, Grã-Bretanha e China. Em Yalta foi acrescentado o quinto país – França –, graças à influência de Stálin.

Durante as discussões sobre os princípios do conselho, a URSS conseguiu aplicar o seu ponto de vista em uma questão fundamental: os “policiais” do Conselho de Segurança da ONU teriam o direito ao veto, opondo-se à proposta de Roosevelt de resolver as questões por maioria dos votos. Para a União Soviética, isso era inaceitável, já que os países ocidentais estavam em maioria.

Esfera de influência

Além do acordo sobre a criação das Nações Unidas, os líderes dos três países reunidos em Yalta concordaram em dividir as esferas de influência, sobretudo no que dizia respeito à Europa.

De acordo com o historiador militar Vitáli Bogdanov, durante a preparação da conferência, Moscou teve por objetivo formular propostas de modo a não causar insatisfação completa do Ocidente.

“Naquela época a União Soviética ainda não tinha começado a ‘comunização’ dos países da Europa do Leste. Isso foi feito mais tarde já no período da Guerra Fria”, diz.

Paralelamente, Roosevelt concordou com a política de “portas abertas”, esperando que a ajuda econômica dos Estados Unidos pudesse ajudar na penetração dos interesses de Washington em território de influência soviética.

Carisma em falta

Com o início da Guerra Fria, os planos de cooperação entre a URSS e o Ocidente ficaram no passado. Mesmo assim, os compromissos assumidos em Yalta se mostraram viáveis ainda sob as novas condições de confronto global.

É por isso que, de acordo com os especialistas entrevistados pela Gazeta Russa, qualquer melhora do sistema de segurança internacional deve se basear nos princípios estabelecidos em Yalta: com a presença da ONU e dos atores globais influentes.

Mas é justamente nesse ponto que os historiadores mais concordam: há falta de líderes mundiais cujo carisma pudesse ser comparado com o dos seus antecessores da época de Yalta e estivesse à altura da complexidade dos desafios da modernidade.

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