Cinco razões para não deixar de assistir a “Leviatã” nas telonas

Diretor de "Leviatã", Andrêi Zvyagintsev (segundo da dir. para esq.), e elenco do filme durante sessão de fotos no 67º Festival de Cannes Foto: Denis Makárenko / RIA Nóvosti

Diretor de "Leviatã", Andrêi Zvyagintsev (segundo da dir. para esq.), e elenco do filme durante sessão de fotos no 67º Festival de Cannes Foto: Denis Makárenko / RIA Nóvosti

Em cartaz no Brasil, obra venceu o Globo de Ouro, conquistou o título de melhor roteiro em Cannes e agora se prepara para concorrer ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira. Diante de tantas indicações e prêmios, a Gazeta Russa pediu a Anton Dólin, um dos maiores críticos de cinema da Rússia, para elencar as cinco razões que tornam este filme obrigatório para os amantes da sétima arte.

1. Sucesso de crítica

É o filme russo mais bem-sucedido dos últimos anos. Recentemente conquistou mais um Globo de Ouro para a Rússia – quase meio século desde que “Guerra e Paz”, de Serguêi Bondartchuk, levou o último troféu da premiação para os russos. Além disso, foram quatro nomeações para os prêmios da Academia Europeia de Cinema, o título de melhor filme no Festival de Londres e o prêmio para melhor roteiro no Festival de Cannes 2014. Para completar essa grandiosa lista, o filme concorrerá ao Oscar 2015 na categoria de melhor filme em língua estrangeira.

Responsável pela direção da obra, Andrêi Zvyagintsev é atualmente o cineasta número um da Rússia. Estreou tardiamente com “Regresso”, em 2003, filme que lhe valeu dois Leões de Ouro em Veneza. A sua obra seguinte, “Exílio”, que foi rodada na Europa com atores russos e uma atriz sueca, proporcionou a Konstantin Lavronenko o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes. Apesar do sucessos de outros filmes de Zvyagintsev, como “Elena”, “Leviatã” vem sendo considerado a sua mais complexa e corajosa obra.

2. Obra completa

Trata-se de um drama longo, melancólico e lento sobre a vida sem esperança dos moradores de uma pequena cidade. A natureza é severa e pitoresca, caraterísticas já esperadas desde o mágico “Regresso”. O destino das personagens também é complexo e trágico. Cada cena do filme é como uma pintura, que transmite uma metáfora ou simbologia.

Leviatã é um ser bíblico, algo entre um dragão e uma baleia. Ora nas margens do mar Branco surge o esqueleto de um animal marinho, ora nas águas revoltadas aparece sua cauda. Também um sacerdote entra em cena subitamente para falar com o protagonista, fazendo um pequeno sermão sobre o homem de Deus, Jó, cujo livro retrata o monstro que dá nome ao filme.

Paralelamente, a obra oferece elementos não tão comuns ao cinema metafísico russo: uma mensagem política direta, desempenhos artísticos excelentes, diálogos realistas e uma boa dose de humor negro.

3. Sátira política

“Leviatã” é o filme mais atual e agudo entre os obras rodadas na Rússia moderna. O roteiro se baseia na luta de um simples mecânico e os poucos que o apoiam – sua mulher, o filho menor, um amigo advogado que chegou de Moscou – contra a máquina do Estado, aqui personalizada em Leviatã, como na obra do filósofo inglês Thomas Hobbes, do século 17.

O prefeito da pequena cidade cobiça a casa e a terra do protagonista, decidindo se apoderar de seus bens a qualquer preço. O filme de Zvyagintsev, além de condenar o sistema, analisa suas raízes. A crítica está não apenas na corrupção e no aparelhamento de todos os ramos do poder, mas também na bênção que a Igreja Ortodoxa Russa, “a suprema autoridade moral”, dá aos atos terríveis que decorrem durante o filme. Nos últimos tempos, apenas as ativistas do Pussy Riot haviam encarado de frente a instituição religiosa – motivo pelo qual sua “oração punk” é citada várias vezes no filme, ainda que indiretamente.

4. Enredo universal

Inúmeros admiradores do filme, a começar pelo neozelandês Jane Campion, presidente do júri de Cannes, apreciaram a linguagem universalista da obra, não restringindo-se ao retrato da Rússia sob Pútin. Mesmo quem não entende de política consegue enxergar em “Leviatã” um drama intenso, que na Antiguidade poderia ser chamado de tragédia, no qual a catarse se dá através da dor e da compaixão. O humor negro de Zvyagintsev, assim como seu lirismo e olhar épico em relação ao lugar do ser humano na Natureza e no Universo, podem ser compreendidos em qualquer lugar do mundo.

O roteiro foi criado com base em uma história verídica: diante da ameaça de perder suas terras, o americano Marvin Heemeyer soldou o seu buldôzer e destruiu metade da pequena cidade onde vivia, incluindo a fábrica de cimento que o ameaçara. Na sequência se suicidou. “Leviatã” tem outro fim, mas o paralelo com o caso nos EUA intriga os espectadores – sobretudo porque a trilha sonora remete à ópera “Akhnaten”, do compositor americano Philip Glass.

5. Literatura em ação

Zvyagintsev é mais um homem da cultura do que da política. Por mais atual e incisivo que pareça seu filme, o tema da luta desesperada do homem contra o Estado e o mundo está organicamente ligado à história da literatura mundial – desde a Bíblia, prosseguindo em “Mikhael Kohlhaas”, de Kleist, e culminando nas melhores obras clássicas russas: “O Chefe da Estação”, de Púchkin, e ”O Capote”, de Gógol, “Gente Pobre”, de Dostoiévski, e “Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk”, de Leskov. Tudo isso está refletido, direta ou indiretamente, em “Leviatã”. A história da família, aparentemente trivial, retrata simultaneamente a história da civilização contemporânea. 

Fonte: YouTube

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