Sem atalho para o campo de batalha

Imagem de protótipo do tanque 'vezdekhod', em 1915 Foto: TASS

Imagem de protótipo do tanque 'vezdekhod', em 1915 Foto: TASS

Na tentativa de aumentar a capacidade ofensiva da infantaria e a proteção contra o fogo inimigo, os tanques russos enfrentaram muitos problemas antes de deixar a sua marca na história militar.

A Primeira Guerra Mundial foi um catalisador de novas ideias na área de engenharia militar, incluindo a tecnologia de blindagem. Os engenheiros da época já flertavam com o conceito de armadura móvel muito antes de o tanque fazer sua estreia no campo de batalha. O pontapé inicial foi um componente fundamental do tanque moderno: a lagarta.

Em 1878, Fiódor Blinov, camponês russo da região de Samara, patenteou um vagão com carril sem fim”, para o transporte de mercadorias por estrada, baseado no princípio de uma lagarta em movimento. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, surgiu toda uma série de projetos de veículos blindados.

Vagão de Blinov com 'roda interminável' Foto: divulgação

O mais próximo ao tanque lagarta contemporâneo, com corpo blindado e torre com armas, foi apresentado pelo inventor Aleksandr Porokhovschikov, em 1914.

Seu vezdekhod, ou ‘veículo para qualquer lugar’, era equipado com estrutura multicamada de 8 milímetros, constituída por três partes: uma camada externa de aço cementado com 2 milímetros de espessura; uma amortecedora com pelos e algas; e, finalmente, uma camada interior feita de aço.

Uma das principais características do projeto era o sistema de movimento combinado, com rodas para a rodovia, e lagartas para uso em terrenos acidentados. O veículo era também impermeável.

vezdekhod tinha motor 20 Cv que proporcionava uma velocidade de 26,5 km/h na estrada –recorde para tanques da Primeira Guerra Mundial. Não contava com armas nem armaduras, mas ambas eram simuladas acrescentando peso equivalente ao protótipo.

O veículo de 3,5 toneladas estava pronto para testes em maio de 1915. Porém, não demorou para ter problemas no modo lagarta: as faixas se desprendiam do bloco. Outro problema era que o veículo não mexia um palmo sequer em meio à neve. Ajustes finais foram feitos em 1916, mas o projeto acabou sendo abandonado depois que a fonte de financiamento secou.

Tanque do Tsar

Na mesma época, o tenente Nikolai Lebedenko trabalhava no projeto de um tanque inovador. No início de 1915, o engenheiro do Exército criou uma máquina que poderia romper arame farpado e trincheiras inimigas.

O ‘Tanque do Tsar’ foi nomeado em homenagem à inabalável crença de Lebedenko de que essas máquinas poderiam “romper o front alemão inteiro em uma noite, e a Rússia venceria a guerra”, segundo o próprio em conversa com imperador.

A característica especial do projeto era o chassi com duas trações e um carrinho de trilho. De um modo geral, o design lembrava uma grande carreta de canhão, impulsionada por dois motores Maybach de 240 Cv de potência.

A construção do protótipo foi concluída em 1917, mas ficou imediatamente claro que o veículo tinha potência fraca: ficou preso na primeira vala durante os testes. Embora sem sucesso, o desenvolvimento do Tanque do Tsar envolveu futuras estrelas da ciência de engenharia soviética, como Jukóvski, Stétchkin e Mikúlin.

Outro protótipo de 1915 também partiu da fábrica de Ribinsk, que basicamente reproduzia modelos franceses. Tripulado por quatro homens e pesando 20 toneladas, o tanque tinha motor de 200 Cv de potência, o que permitia manobrabilidade suficiente, apesar da pesada estrutura de 10 a 12mm.

O tanque carregava uma pistola 107 mm com mira traseira dentro da estrutura, e havia outra uma arma pesada posicionada na frente, ao lado do motorista. Mesmo assim, o projeto não impressionou os chefes técnico-militares do país e não recebeu apoio.

Peso contra eficiência

Outro candidato foi o projeto concorrente de Vassíli Mendeleev, filho do famoso químico e inventor Dmítri Mendeleev. O modelo foi apresentado ao Ministério da Guerra, em agosto de 1916. Desenvolvido desde 1911 por iniciativa pessoal de Mendeleev, o tanque era equipado com uma armadura antibomba e outras inovações técnicas que encontraram aplicação nos anos posteriores.

 

Tanque Mendeleev projetado em Rybinsk, em meados dos anos 1910 Foto: divulgação

Mendeleev propôs unidades de suspensão pneumática para o chassi, e o veículo tinha um servomotor. Como a arma principal era um canhão de 120 mm, Mendeleev queria construir um corpo que pudesse ser rebaixado durante o disparo a fim de reduzir a carga sobre chassis e proteger as lagartas do fogo inimigo.

O tanque podia transportado em plataformas ferroviárias, aumentando, assim, a mobilidade e garantindo a entrega rápida ao front. Mas o preço pago pelas várias inovações era o peso de 170 toneladas. As exigências para produção do veículo blindado também não compensavam, como assumiu o próprio Mendeleev. Isso tudo dissuadiu o ministério a prosseguir com o modelo.

Resultado: os tanques russos não lutaram nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial. Apesar dos esforços de engenheiros para equipar o Exército com armas modernas, essas tentativas, em sua maioria, não conseguiram passar da fase de testes.

O consolo é que muitas das ideias propostas acabaram encontrando mais tarde alguma aplicação; algumas ainda estão presentes em projetos do futuro.

 

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