Villa-Lobos e o folclore que atravessou o oceano

Primeiras obras de Villa-Lobos apareceram na União Soviética em 1959 Foto: Getty Images/Fotobank

Primeiras obras de Villa-Lobos apareceram na União Soviética em 1959 Foto: Getty Images/Fotobank

Às vésperas do aniversário de morte de um dos maiores compositores brasileiros do século 20, a Gazeta Russa relembra as qualidades que fizeram o artista conquistar uma legião de seguidores na URSS.

No dia 17 de novembro, o mundo da música celebra a memória do compositor Heitor Villa-Lobos, cujo trabalho é reverenciado por apreciadores de música e historiadores mundo afora. O legado do brasileiro chega a 1.500  composições em gêneros variados: 9 óperas, 12 sinfonias, 10 concertos instrumentais e mais de 60 grandes músicas de câmara, como sonatas e quartetos. Isso sem falar de peças para instrumentos individuais, que somam mais de uma centena.

“O trabalho que levaria três ou quatro vidas para ser realizado foi feito em uma por Villa-Lobos – um incrível artista devoto ao país em que se tornou o seu maior orgulho”, descreve o historiador russo e musicólogo Pável Pichuguin em seu artigo “Heitor Villa-Lobos e a cultura musical brasileira”, publicado na antologia “Cultura do Brasil”, em 1981.

As primeiras obras de Villa-Lobos apareceram na União Soviética em 1959, ano em que o compositor morreu.  Em 1966, o renomado violinista Nikolai Komoliatov já executava em concertos todos prelúdios e estudos de Villa-Lobos. No Festival de Artes Latino-Americanas, realizado em Varsóvia, Komoliatov foi eleito o melhor violinista justamente por executar uma composição do brasileiro.

“Na minha época, precisamente nos anos 1960 e 80, sempre tocava no violino as obras desse grande mestre e compositor. Agora, apesar dos meus alunos conhecerem o nome Heitor Villa-Lobos em suas lições, poucos levam aos palcos russos as obras do compositor”, lamenta o violinista e professor da Academia de Música que leva seu nome.   

“A melodia e o ritmo incomum das obras brasileiras atrai e revela novos segredos da música”

Nikolai Komoliatov, violinista

No início dos anos 1980, foi lançado em Moscou um compêndio com obras de Villa-Lobos para violão. Mas, antes mesmo daquela época, não era só os violinistas que mostravam adoração pelo trabalho do brasileiro.

Em 1973, a cantora soviética e solista do Teatro Bolshoi, Nina Lebedeva, batizada de “soprano russa” pelos jornais brasileiros, foi a grande vencedora no Concurso Internacional de Cantores, no Rio de Janeiro. A sua interpretação de “Bachianas №5”, de Villa-Lobos, emocionou o público de tal maneira que a artista deixou o palco enquanto a plateia pedia bis.

Villa-Lobos, que idolatrava Bach, escrevera “Bachianas” não apenas como uma imitação do grande compositor alemão, mas como um verdadeiro épico brasileiro. Em entrevista posterior ao concurso, Lebedeva reconheceu que “na ária de Bachianas Brasileiras soa algo essencial que nossa alma quer verdadeiramente ouvir”.

A mesma opinião é apresentada pelo historiador russo e musicólogo Vitáli Dotsenko, em sua monografia “História da música da América Latina nos séculos 16-20”, publicada em 2010. “Nas árias de uma sonoridade particularmente emocionante em Bachianas Brasileiras, o compositor se reveste provavelmente de algo sagrado”, observa Dotsenko. Melodias como “Modinha”, de “Bachianas №8”, e “Cantilena”, de “Bachianas Brasileiras №5”, garantiram a Villa-Lobos um espaço exclusivo no cenário internacional.

“O Brasil deu muito a Villa-Lobos; o artista-patriota, por sua vez, devolveu ainda mais – o que era apenas folclore e patrimônio do Brasil, tornou-se, através da expressão de Villa-Lobos, o verdadeiro som espiritual do Novo Mundo, acessível a todos e pertencente à toda humanidade", conclui Pichuguin.

 

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