Samovar russo, usado na preparação do chá, ganha exposição

Samovar é um utensílio de cozinha tradicional russa Foto: Tatiana Vich

Samovar é um utensílio de cozinha tradicional russa Foto: Tatiana Vich

O Museu de Decoração e Arte Aplicada da Rússia, em Moscou, abriu uma exposição dedicada ao samovar, um utensílio tradicional russo para a preparação de chá. A responsável pela exposição contou à Gazeta Russa todos os segredos da cerimônia do consumo da bebida no país.

O processo de preparação de chá começa com o acendimento de fogo para esquentar água, previamente despejada dentro do samovar, que reage para o aumento da temperatura do líquido no seu interior com os sons de ebulição, agito e até uma espécie de canto. Assim que a água esquentar, o samovar é trazido para a mesa, onde um bule é colocado no seu topo. Ao contrário da cerimônia do chá à moda chinesa, a tradição russa prescreve diluir o concentrado da substância nas próprias xícaras, usando água fervente preparada no samovar.

Foto: divulgação

De acordo com as regras do ritual tradicional russo, o samovar com um bule no seu topo ocupa um lugar central da mesa coberta com uma toalha de renda, onde também são colocados doces e salgados diferenciados, tais como queques de mel, rosquinhas, pãezinhos doces, bombons, açúcar em cubos, assim como xícaras e pires fundos usados pela população da Rússia antiga.

"Nenhum país do mundo tem uma tradição de consumo de chá igual a da Rússia", explica Olga Iúrkina, responsável pela exposição.

"Na China e no Japão, o chá é o único componente e o principal objetivo da cerimônia correspondente, pois não tolera a presença de nenhum outro produto. Na Rússia, no entanto, o chá é um motivo para uma longa conversa acompanhada por empadas, bombons e outros doces", acrescenta. Para os russos, o chá é mais que uma bebida. É uma espécie de refeição demorada e um ato de socialização.

Chá verde e preto

Segundo uma das lendas, a informação sobre a existência do chá foi divulgada no século 16 pelos cossacos após viagem à China, embora, de acordo com os documentos oficiais, a primeira porção das folhas secas tenha chegado à corte de Mikhail, primeiro czar da dinastia Romanov, apenas um século depois.


Foto: Press Photo

A tradição de cerimônia no país teve o seu início na época do reinado do Pedro 1º, que emitiu a autorização real para a celebração do contrato referente à troca de mercadorias entre a Rússia e a China. Na década de 20 do século 18, o chá chinês já começou a entrar no território do país em grandes quantidades, dando início à história da sua permanência no solo russo. Ao contrário do chá inglês importado da Índia pelos navios comerciais da Inglaterra, que ao longo de viagem perdia o seu sabor original devido ao contato com a umidade e a secagem posterior, a população russa recebia as folhas da bebida intactas via transporte terrestre, que ao longo de seis meses percorria longas distâncias através da Sibéria e dos Montes Urais para chegar aos seus consumidores.

"Estamos acostumados a associar a China com o chá verde, porém sempre consumimos a sua variedade preta", explica Olga Iúrkina. "Acredito que preferência é apenas uma eventualidade ligada ao fato de que o chá preto seja o primeiro a chegar ao território da Rússia. Caso contrário, a espécie verde da bebida ganharia mais admiradores ao longo dos séculos", acrescenta.

Pátria dos samovars

Samovar é um utensílio de cozinha tradicional russa que esquenta a água para o chá usando o calor emitido pela combustão da lenha, dispensando o uso de eletricidade, inexistente na época de surgimento da tradição de consumo da bebida. A história de invenção do samovar possui várias versões. Uma delas atribui todos os créditos ao czar Pedro 1º, que trouxe um protótipo do utensílio, posteriormente copiado pelos artesões russos, da sua viagem à Holanda. Segundo outra, o primeiro modelo de samovar foi trazido da própria China, enquanto a terceira, e a mais verdadeira de todas, diz que os samovars foram inventados e fabricados na região dos Montes Urais, nas usinas do empresário Nikita Demidov, pelos artesões que ele mesmo trouxe da cidade de Tula, sua terra natal.


Foto: Press Photo

Talvez este seja o principal motivo de fama tão grande usufruída pelos samovars de Tula, que passaram a ser produzidos nas oficinas abertas pelos artesões em questão após o seu regresso na cidade de origem. Existem vários modelos de samovars –os portáteis, que permitem preparar apenas uma xícara de chá, os fixos, com a capacidade de dezenas litros, além dos multifuncionais, compostos por três compartimentos para a preparação de comida e água quente.

"Antigamente, os samovars custavam muito caro. Por exemplo, no século 19, o preço de um item do tamanho médio atingia dez rublos de ouro, um salário mensal de qualquer operário. Mas apesar do alto valor, as famílias não deixavam de adquirir este utensílio importante, economizando ao longo de meses e até anos para usá-lo durante a vida toda e depois repassá-lo como herança para os seus descendentes", conta Olga.

O progresso tecnológico não suspendeu a fabricação e a popularidade dos samovars tradicionais à lenha na cidade de Tula. Hoje em dia, eles ajudam a manter as tradições, atribuir um ar exótico ao ritual de consumo de chá no país e criam uma atmosfera única de lar russo.

 

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