Viagem literária pelas esculturas

Estátua de Púchkin em Roma Foto: Alamy/Legion Media

Estátua de Púchkin em Roma Foto: Alamy/Legion Media

Você sabia que até mesmo na África existe um monumento ao poeta russo Púchkin? Não que haja milhares de estátuas a escritores russos pelo mundo todo, mas eles existem – e a maioria possui uma história um tanto incomum.

Existem mais de 190 monumentos a Aleksandr Púchkin pelo mundo todo, e um deles está localizado na Etiópia. Isso pode parecer estranho para quem não sabe que as origens do poeta remontam ao país africano. Acredita-se que Hannibal, o famoso servo árabe de Piotr, o Grande, foi sequestrado da Etiópia quando pequeno, levado para o mercado de escravos e então levado à Rússia.

Depois de se tornar súdito de Piotr, Hannibal foi cristianizado e acabou se tornando um general. E foi justamente o seu neto que se tornou o mais famoso poeta do país. O primeiro e único momento a Púchkin na África, em Addis Ababa, foi inaugurado em 2002. Os poemas de Púchkin foram declamados durante a cerimônia de inauguração, que contou ainda com um desfile militar na rua cujo nome homenageia o poeta.

Em Xangai, um monumento a Púchkin surgiu em 1937. O cantor Fiódor Chaliapin ajudou a arrecadar fundos para tal homenagem enquanto estava em turnê pela China. O mesmo foi feito pelo renomado compositor Aleksandr Vertinski, que estava morando ali. Durante a ocupação japonesa, o monumento foi destruído e só voltou a decorar a cidade após a libertação de Xangai.

Até mesmo nos EUA existe um monumento a Púchkin. Construído na década de 2000, a estátua de 1,80 metro construída por Aleksandr Burganov foi doada para a Universidade George Washington pelo próprio governo de Moscou.

  

Estátua de Dostoiévski na Alemanha Foto: Alamy/Legion Media

Já na Rússia, existem 94 monumentos ao poeta. Um dos mais inusitados apresenta Púchkin ao lado de sua mulher Natalia Gontcharova e fica na principal rua da cidade siberiana de Krasnoiarsk. Tudo seria normal se a estátua não viesse acompanhada de uma citação extraída de “Lembro-me de um momento maravilhoso”, um poema dedicado a sua amante Anna Kern.

Belo refúgio

O primeiro monumento a Púchkin foi erguido em Roma em 1837, pouco tempo depois de a notícia da morte do poeta chegar à capital italiana. A princesa Zinaida Volkonskaia, amiga de Púchkin, ordenou a construção de um monumento memorial em sua casa no centro de Roma. Infelizmente, nem a casa nem o monumento existem mais nos dias de hoje.

Monumentos a Púchkin ao redor do mundo

Áustria (1), Bélgica (1), Bósnia e Herzegovina (1), Alemanha (3), Grécia (1), Egito (1), Índia (1), Espanha (1), Itália (1), Canadá (2) , China (2), Cuba (1), México (1), República da Coreia (1), Romênia (1), Eslováquia (1), Estados Unidos (3), Turquia (1), França (1), Montenegro (1).

Embora Púchkin nunca tenha visitado a Itália, sua figura ganhou destaque em várias cidades do país – e em diferentes ocasiões. Enquanto estava na prisão na Rússia, o cineasta Serguêi Parajanov desenhou o perfil de Púchkin com um prego em uma tampa de garrafa. Dez anos depois, seu amigo Federico Fellini encomendou a produção de medalhas de prata com base naquela imagem, que se tornaram o objeto de premiação do festival de cinema Rimini.

Em 1937, cem anos depois da morta do poeta, um novo monumento de mármore estava prestes a ser erguido em Roma. No entanto, os recursos eram escassos na época, e o governo fascista olhou para esse empreendimento com desprezo. O monumento só foi concretizado em celebração ao 200º aniversário do nascimento de Púchkin, em 1999, com a ajuda do governo de Moscou.

O escultor Iúri Orekhov, proveniente da cidade russa de Tula, criou uma figura do poeta em bronze sentado sobre um banco, pensando profundamente diante de uma cidade desconhecida. O monumento foi posteriormente colocado nos jardins da Villa Borghese, em Roma, em um ambiente muito honroso.

   

Estátua de Púchkin em Xangai Foto: RIA Nóvosti

Nas proximidades, existem estátuas a Lord Byron, Wolfgang Goethe, Victor Hugo e outros gigantes da literatura. A cerimônia de inauguração foi aconteceu no 201º aniversário do poeta, quando o então novo presidente da Rússia, Vladímir Pútin, chegou à capital italiana durante a sua primeira viagem internacional e levantou o véu que cobria o monumento.

Itália “nostra”

Em 2002, uma escultura de Nikolai Gogol foi acrescentada ao “Jardim dos Poetas”, também na Villa Borghese. As celebrações do 150° aniversário da morte de Gogol terminaram com a inauguração desse monumento em Roma, a cidade favorita do escritor. “Quem já esteve no céu – não quer estar na terra. Quem já esteve na Itália diz ‘adeus’ a outros lugares”, escreveu Gogol sobre o país.

A figura de bronze foi produzida pelo famoso escultor e presidente da Academia Russa de Artes, Zurab Tsereteli, e doado para a Itália. A escultura de 4 metros mostra Gogol segurando uma máscara com sorriso sobre o seu joelho. O escritor viveu em Roma por muitos anos e era fluente na língua local.

  

Estátua de Bródski em Moscou Foto: PhotoXpress

“Apaixonar-se por Roma é uma processo lento e certamente para a vida toda”, escreveu. Ali produziu parte considerável de “Almas mortas”, fez uma nova versão de “O Inspetor Geral”, e também o romance “Roma”. “Só em Roma consigo escrever sobre a Rússia. Este é o único lugar onde eu vejo tudo”, ressaltava aos amigos sobre o seu trabalho. Não é à toa que essas palavras foram inseridas no pedestal do monumento.

Mais monumentos...

1. O monumento a Fiódor Dostoiévski por Aleksandr Rukavichnikov foi inaugurado em 2006 na cidade alemã de Dresden, onde Dostoiévski costumava ir com frequência e chegou até a morar. A obra apresenta as inscrições “O Marido Eterno” e “Demônios”.

2. Em 2012, um monumento dedicado a Lev Tolstói foi inaugurado em Washington. O busto, projeto por Gregóri Pototski, foi colocado na Universidade Americana para promover as relações culturais entre os estudantes americanos e russos.

3. Um monumento a Anton Tchekhov foi erguido no mesmo ano em Nice, na França. A estátua foi doada pela Academia Internacional da Bondade, Casa Rússia em Nice e está localizado perto do hotel Oásis, onde Tchekhov viveu.

4. O monumento ao escritor Ivan Turgenev e à cantora Pauline Viardot, simbolizando o “mais perfeito exemplo de amor no século 19”, foi inaugurado na cidade francesa de Buzhevale em 2010.

5. Vladímir Nabokov e sua mulher Vera passaram 16 anos em Montreux, onde viviam no respeitável hotel Le Montreux Palace. No centenário do escritor em 1999, um monumento produzido pelo escultor Rukavichnikov surgiu no lado oposto ao hotel.

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