A arte de cozinhar para os líderes

Além de cozinhar para líderes russos, Beliáev comandou a cozinha para recepcionar Fidel Castro e Margaret Thatcher Foto: Dmítri Astakhov/RIA Nóvosti

Além de cozinhar para líderes russos, Beliáev comandou a cozinha para recepcionar Fidel Castro e Margaret Thatcher Foto: Dmítri Astakhov/RIA Nóvosti

Viktor Boríssovitch Beliáev, presidente da Associação dos Mestres da Culinária, cozinhou durante mais de trinta anos para os dirigentes da Rússia. Ensinou Indira Gandhi a preparar talharim e suscitou a admiração de Nixon. E aponta árabes, sul-coreanos e romenos como os mais caprichosos à mesa.

O futuro mestre culinário queria ser arquivista. Mas isso antes de ter reparado num anúncio de um curso afixado na porta da Escola Profissional de Culinária. Foi o que confessou Viktor Beliáev ao jornal “Moskovski Komsomolets”. Quando soube que teria direito a uma boa bolsa, não hesitou. Concluído o curso, quis a sorte que fosse colocado no restaurante “Praga”, um dos mais famosos de Moscou.

Durante muito tempo, o futuro cozinheiro do Kremlin se sujeitou a arranjar peixe e carne, e a descascar batatas. Certa ocasião, fez parte de uma equipe que serviu um banquete no Kremlin, e foi convidado para aí ficar. “Tive uma professora de culinária, Zinaída Vassílievna, que gostava de mim, pois comecei a sair-me bem com sopinhas e tudo o resto. Seu tio era diretor do Grupo de Alimentação do Kremlin. Foi graças a ela que fui colocado diretamente na cozinha especial do Kremlin, e não na cantina para os funcionários”, recorda Beliáev.

Na época, havia duas cozinhas privilegiadas: uma, para os membros do Bureau Político do Partido Comunista; outra, para os representantes do governo. “Eu fui destacado para esta última. Era um trabalho fascinante. A primeira coisa que vi, foi fogões a gás, depois eletrificados, trazidos da casa de campo de Goebbels, com dez metros de comprimento. Trabalhei aqui catorze anos”, acrescenta.

Ali se cozinhava diariamente para grandes e pequenas recepções. “Cozinhei para Fidel Castro, Margaret Thatcher, Indira Gandhi, Nixon, Helmut Kohl, Carter, Giscard d'Estaing e muitas outras personalidades mundiais. Foi muito interessante para mim”, conta o cozinheiro.

Antes de começar a cozinhar, uma equipe composta por médicos, funcionários protocolares e outros, pertencentes à comitiva estrangeira, explicava quem gostava de quê, quem podia comer o quê, pois alguns deles tinham suas doenças crónicas.

“Os representantes dos países árabes eram muito diferentes: não comiam nossas sopas nem nossos outros pratos. Nestes casos, vinha pessoal das respetivas embaixadas e com ele aprendíamos a cozinhar pratos daqueles países”, lembra.

De um modo geral, os estrangeiros gostavam da mesa russa, e alguns até pediam receitas. “Gandhi adorou o talharim, que fiz com gemas de ovos. Entrou na cozinha e pediu a receita. Alguns meses depois, ela chegou para um fórum qualquer e calhou-me estar de turno. Se dirigiu à cozinha propositadamente para me dizer que tinha cozinhado talharim segundo a minha receita e que a família havia adorado”, comenta.

Certa vez, Viktor decidiu pôr à prova suas competências num outro país, e resolveu partir com a família para a Síria. Começaram sentindo falta do pão de centeio, de kefir, arenque em salmoura, e não gostaram do clima. Por isso, regressou a Moscou.

Passou a trabalhar na antiga casa de campo de Stálin, arredores de Moscou, que servia de casa de hóspedes do primeiro presidente da URSS, Mikhail Gorbatchov. Depois veio Boris Iéltsin, o primeiro presidente da Rússia, e Beliáev regressou ao Kremlin.  Foi criada então uma sociedade holding intitulada “Complexo de Alimentação do Kremlin”, que Viktor encabeçou durante oito anos. 

 

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