Os 20 anos da morte de Ivan Kozlóvski, lendário tenor de ópera

Ilustração:  Natália Mikhailenko

Ilustração: Natália Mikhailenko

A popularidade de Kozlóvski na década de 1940 talvez fosse até maior do que a das atuais estrelas de pop e rock. Suas fãs eram chamadas de kozlovistas.

O último dia 21 marcou os 20 anos da morte de Ivan Kozlovski (1900-1993), solista do Teatro Bolshoi e lendário tenor de ópera, que marcou época cantando a ária de Lenski em "Evguêni Onéguin" e interpretando o papel de Iuródiv em "Boris Godunov" e de Berendei em "Snegurotchka" (A Donzela da Neve). No total foram mais de 50 partituras clássicas interpretadas por ele.

A popularidade de Kozlóvski na década de 1940 talvez fosse até maior do que a das atuais estrelas de pop e rock. As fãs de Kozlóvski eram chamadas de kozlovistas. Já  as fãs de Lemechev, outro famoso tenor da época, de lemechistas. Tratava-se, regra geral, de garotas de famílias pobres que viviam nas komunalkas [apartamentos comunitários] e que escutavam o cantor de ópera.

As fãs ficavam esperando os cantores na rua, perto da casa deles, e faziam verdadeiros cercos aos camarins. Não perdiam um único concerto. De vez em quando, chegavam mesmo à briga física por causa dos ídolos. Ter o ídolo "errado" poderia ser causa para uma surra brava. E algumas chegaram mesmo a cometer suicídio pelo amor não correspondido que sentiam pela estrela. Tudo como no grande show business. Agora que os cantores já não estão entre nós, as kozlistas e lemechistas que ainda estão vivas são vistas no cemitério Novodévitchi, em torno das sepulturas dos antigos astros.

Alguém certa vez calculou que o volume da voz de Kozlóvski chegava aos 150 decibéis. Apesar disso, ela soava incrivelmente delicada, suave e bonita. Sua dicção era muito bem articulada e inteligível, como os atores dos antigos teatros imperiais. Posteriormente, a ópera se afastou desta escola. Em Kozlóvski era possível sentir não apenas o cantor de ópera, mas também o ator dramático.

Ele interpretava cada papel na ópera como um ator interpretava no teatro. Se achasse que para dar mais ênfase a uma cena deveria estender mais a nota do que aquilo que estava indicado na partitura, então ele estendia. Os músicos eram obrigados a se ajustar a ele para conseguir acompanhá-lo. Na ópera "Fausto", ele chegou mesmo a dar passos de balé.

Era um homem muito reservado e se comportava com grande dignidade. Mas se sentia magoado com o público e com o poder. Estudante de um seminário, gostava muito de cânticos espirituais de Natal ucranianos. Mas não lhe era permitido executá-los em público. Na década de 1960, quando, apesar das restrições, ele gravou um disco com canções tradicionais de Natal, todos os exemplares foram destruídos.

Entretanto, para Stálin, Kozlóvski era um cantor palaciano. Certa noite, ele foi convocado para ir a um banquete no Kremlin. Stálin queria ouvir a canção popular georgiana "Suliko". Kozlóvski disse que não podia cantar, que estava com dor de garganta e tinha medo de perder a voz caso a esforçasse. "Muito bem”, teria respondido Stálin bem-humorado. “Que o camarada Kozlovski cuide de sua voz. Escute então o senhor como eu e Béria cantamos. Vamos, Lavrenti, vamos cantar."

Stálin e Béria se levantaram de suas cadeiras, se colocaram lado a lado e cantaram “Suliko” para Kozlóvski. Diga-se de passagem, nada mal.

A sua veia aristocrática de estrela se sentia em tudo o que ele fazia. Foi acompanhando a moda de Kozlóvski que o povo soviético aprendeu a usar fraque. Como toda estrela, ele cuidava de sua saúde: jogava constantemente tênis e vôlei e até os 75 anos praticou ginástica nas argolas.

Além disso, ia toda noite ao conservatório –em uma das poltronas do camarim do Salão Grande foi fixada uma pequena tabuleta que diz: "Neste lugar o grande cantor russo Ivan Semiônovitch Kozlovski escutava música." 

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