“Vi muitos ‘Raspútins’ em vários países”, conta Depardieu

Depardieu, que ganhou nacionalidade russa no início deste ano, interpreta camponês místico Foto: kinopoisk

Depardieu, que ganhou nacionalidade russa no início deste ano, interpreta camponês místico Foto: kinopoisk

Ator francês encarna ancião místico e um dos personagens mais enigmáticos do Império Russo em filme que estreou nos cinemas russos na semana passada.

Izvéstia: Por que se interessou pelo personagem de Raspútin?

Gérard Depardieu: Houve um momento em que me senti próximo dessa figura. Ambas as minhas avós eram videntes e praticavam hipnose. Durante minha vida, vi muitos “Raspútins” em vários países e várias circunstâncias. Mas também é um personagem muito russo, idealista e íntegro. Viveu numa época conturbada, quando caíram quase todas as monarquias da Europa, se desfizeram alianças e Estados traiam-se mutuamente. 

Izvéstia: Como foi interpretar mujique [camponês russo] russo selvagem?

Na pele de Raspútin

Depardieu fala de maneira comovente, sobretudo quando se refere a Deus e ao pecado. A aldeia natal de Raspútin, na Sibéria, corresponde perfeitamente à imagem de Rússia selvagem. As personagens passam o tempo a se benzer ou beber; enquanto isso, Depardieu, vestindo um casaco rústico enorme e desabotoado, mais se parece com um urso. 

G.D.: A questão não está em representar um russo, mas sim um personagem histórico. Como em qualquer outra arte ou até modalidade esportiva, o que interessa a nacionalidade? A naturalidade de um ator não influencia o modo como encarna uma figura qualquer. Quando Vladímir Vissotski ia representar e cantar a França, o público não ia ver um russo.

Izvéstia: Quais outros personagens russos o atraem?

G.D.: As obras de Dostoiévski, Gogol e Tchekov estão cheias deles, mas simpatizo sobretudo com Porfíri Petrovitch, pai Karamazov e príncipe Míchkin.

Izvéstia: Você viajou bastante pela Rússia. Encontrou muita coisa inexplicável nas cidadezinhas?

G.D.: Gosto de trocar informações e conviver com os russos. Além disso, gosto de aldeias. Aqui é tudo simples, sem cerimônias. Eu também nasci em uma província. A propósito, lembre-se que já visito a Rússia há  25 anos. Nesse momento da minha vida, senti que precisava ficar aqui mais um tempo. Foi uma grande honra para mim receber um passaporte russo, do qual me orgulho muito. A imprensa escreveu demais sobre o assunto, não era isso que eu queria.

Izvéstia: Alguns jornais anunciaram que você planeja abrir um restaurante na capital russa. Como fará para atrair os moscovitas?

G.G.: Sou dono de alguns restaurantes em Paris. Nunca me perguntei como deve ser um restaurante para agradar as pessoas. Simplesmente cuido para quem tenha boa cozinha e pessoal de confiança. Os meus restaurantes estão sempre cheios. Se decidir investir na Rússia, seguirei o mesmo caminho.

O mais importante é o que se põe nos pratos e o serviço. Também quero transparência no que é servido, quero saber a origem dos produtos, como foram cultivados. Não estou falando de produtos biológicos, mas de comida saudável: legumes, carne, vinho. Gosto de cozinha simples, de pratos tradicionais.

Na Rússia, gostaria de trabalhar com carnes. Vi excelentes explorações de gado, mas penso que o modo de conservar e cortar a carne pode ser melhorado.  

Dobradinha de sucesso

Os franceses já viram Depardieu no papel de Raspútin em dezembro de 2011, com uma produção de Josée Dayan, responsável por “O Conde de Monte Cristo” e "Os Miseráveis”. O filme “Raspútin” foi rodado no tempo recorde de apenas 26 dias, e posteriormente transmitido pela televisão.

A expectativa é que o filme chegasse aos cinemas russos em março de 2012, após as eleições presidenciais, mas imprevistos impediram sua exibição. Segundo Depardieu, o presidente Vladímir Pútin já viu a versão francesa.

“Encontrei-me algumas vezes com Pútin, quando ele era primeiro-ministro. Dei a ele o roteiro e disse: ‘Tem que lê-lo e dizer do que gosta e do que não gosta’”, contou o ator.

Se o novo “Raspútin” for bem-sucedido, Dayan e Depardieu pensam em adaptar para o cinema obras como “A Filha do Capitão” e  “Os Irmãos Karamazov”. O último lançamento de Depardieu na Rússia não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros.

 

Publicado originalmente pelo Izvéstia

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