Abrem-se as cortinas para as tecnologias musicais

Desde os anos 1990, os músicos russos começaram a ter acesso a um leque de oportunidades oferecidas pelas modernas tecnologias eletrônicas de produção musical. Mas será que essa tecnologia realmente facilitou a auto-expressão? A Gazeta Russa acompanhou um debate público sobre o assunto realizado em Moscou, que envolveu grandes nomes como Rudolf Schenker, do Scorpions, e a estrela do hip-hop russo Noize MC.

Na segunda metade do século 20, o rock e a indústria de música popular da Rússia utilizavam tecnologia ultrapassada em relação às produções da Europa e dos EUA. Durante os anos da chamada “cortina de ferro” da URSS, a cena local permanecia bem isolada.

Os músicos russos sequer se aproximavam de guitarras, amplificadores e microfones de qualidade. Na década de 70 e início dos anos 80, eles usavam equipamentos baratos e caseiros – guitarras feitas de placa de parquet e receptores de rádio se transformavam em amplificadores.

Porém, ao longo dos últimos dez anos, equipamentos de gravação e sintetizadores se tornaram acessíveis para diversos músicos, sobretudo por causa das lojas on-line. O som de músicos contemporâneos russos, como TV Punk, EIMIC, Cheese People e Noize MC, é carregado de recursos eletrônicos.

Aliás, Noize MC (Ivan Alekseev) é a prova viva de que a tecnologia moderna pode ajudar um músico talentoso a alcançar o sucesso. Distribuindo sua música via internet (mas também fazendo apresentações na rua dez vez em quando), Noize virou alvo das gravadoras e agora é um nome de peso  na cena hip-hop russa. “Enquanto desenvolvo ideias para novas músicas, meus produtores se encarregam da parte de som”, conta. O principal benefício da tecnologia é, segundo Noize, “o fato de encurtar o caminho entre a ideia e a realização”.

Porém, o produtor musical Andrei Ivanov garante que, mesmo usando o equipamento mais moderno, é preciso saber o básico. “Misturar várias faixas em uma música requerer experiência musical, conhecimento e criatividade, e não há programa que possa fazer isso com extrema eficácia”, diz ele.

Apesar das tecnologias atuais serem mais poderosas em transformar o pior cantor em um intérprete com voz aceitável, o presidente da fabricante de equipamentos Gibson Guitar Corporation, Craig Anderton, defende que o uso de equipamento técnico para corrigir os erros remonta aos tempos da gravação analógica, quando a variação de velocidade da fita era uma técnica normalmente utilizada para ajustar a afinação de um instrumento ou voz. “Mas, assim como hoje, essas ferramentas eram usadas apenas para edição”, garante Anderton, acrescentando que o “verdadeiro talento não pode ser nem imitado nem oculto”.

Preço do sucesso 

Fonte: Youtube

Rudolf Schenker, do grupo de rock alemão Scorpions, não demonstra muito entusiasmo pelas tecnologias na música. “Isso tende a matar a inspiração real, quando você empresta sua personalidade para a música”, diz ele, embora sua banda também utilize uma grande quantidade de equipamentos na realização dos shows.

Em entrevista à Gazeta Russa, Schenker, que fez muitas turnês pela Rússia desde os anos 1990, ressaltou que “os equipamentos usados em apresentações ao vivo na Rússia melhoraram muito. Nos últimos 10 anos, o país recuperou o atraso”.

Talvez seja assim para os artistas de destaque e bem pagos como os Scorpions , mas, para os produtores independentes de música na Rússia, a situação ainda é diferente. Vassíli Chumov, do grupo de rock alemão Center e veterano da cena underground do rock russo, afirma que a tecnologia moderna está conquistado a Rússia muito lentamente – as inovações estão sendo aplicadas com sucesso em trabalhos de estúdio, mas, quando se trata de shows, “o custo elevado e a necessidade de operadores qualificados no palco tornam essas tecnologias indisponíveis até mesmo para os principais músicos russos”.

Por outro lado, a tecnologia permite que um único artista desempenhe a função de uma banda inteira. Esses músicos podem viajar sozinhos, com despesas mínimas em comparação com as de uma banda de rock completa. “Isso ainda não é muito popular entre os produtores russos, que preferem investir em projetos pop de curta duração com um plano de negócios pronto”, diz. Chumov. Tal tendência tem gerado estagnação musical, quando, por causa da falta de material novo, a atenção do público se volta mais para as tecnologias de produção do que para a música em si. “Ultimamente, vejo um monte de reportagens sobre bandas que conseguiram dinheiro para gravar seus álbuns por meio de sites de crow-funding – e esta é a essência da reportagem, em vez de informar detalhes sobre o som produzido pelo banda”, finaliza o roqueiro.

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