Uma jornada pela história russa

“Os Bogatirs”, de Viktor Vaznetsov, impressiona por seu tamanho: 295,3 cm X 446 cm Foto: wikipedia

“Os Bogatirs”, de Viktor Vaznetsov, impressiona por seu tamanho: 295,3 cm X 446 cm Foto: wikipedia

Exposição em cartaz na Galeria Tretiakov, em Moscou, retrata o passado da Rússia como nenhum livro de história. Mostra abriga várias pinturas que descrevem a vida na Rússia tsarista, de retratos da elite às cenas de peregrinações.

É difícil ficar indiferente à horripilante obra “Apoteose da Guerra”, de Vassíli Vereschaguin. O trabalho de óleo sobre tela, de 127 por 197 cm, foi concluído em 1871 e é provavelmente o quadro mais famoso do pintor. Foi nessa época que o Império Russo estava em expansão para tomar o território que se estendia da Escandinávia ao Oceano Pacífico, até as portas da Índia ao sul.

Vereschaguin viajou pela Ásia Central à medida que o Império Russo começou a anexar um território após o outro, e as viagens do artista podem ser rastreadas por suas obras, como “As Portas da Tamerlane” e “O Triunfo”, outra pintura gigantesca que mede 195,5 x 257 cm e retrata uma mesquita de azuis, atualmente situada no território do Uzbequistão. O artista também seguiu rumo à Índia e seus quadros do país antecedem os da família Reich.

“Os Bogatirs”, de Viktor Vaznetsov, é outro quadro enorme no qual três cavaleiros sobre seus respectivos cavalos ficam ainda maiores com a dimensão de 295,3 cm por 446 cm. Considerando o passado violento e conturbado da Rússia, muito poucos artistas russos retrataram cenas de guerra, mas a galeria tem várias pinturas que retratam a vida na Rússia tsarista, de retratos da elite às paisagens bucólicas.

Acerco público

A história da Galeria Estatal Tretiakov remonta ao ano de 1856, quando o comerciante moscovita Pável Tretiakov comprou algumas obras de artistas russos da época com o objetivo de criar uma coleção que um dia poderia se transformar em um museu de arte nacional. Em 1892, Tretiakov presenteou a nação com seu acervo de aproximadamente 2 mil obras.

Em 1862, Vassíli Pukirev pintou “Casamento de desiguais”, retratando o casamento de um homem de 60 anos com uma mulher que não parece ter nem metade da idade do noivo. O casamento acontece em uma igreja ortodoxa e tudo indica que o homem pertence à elite da época. Pukirev estava bem à frente de sua geração quando se tratava de seus pontos de vista sobre os direitos das mulheres e a cobiça da sociedade. Outros artistas como Illarion Prianichnikov mostram a vida durante a década de 1860, tanto no campo como nas cidades. É possível admirar a imagem do humilde camponês tão explorada por Dostoiévski na obra “Unladen”, de Prianichnikov. Nela, um homem de meia-idade tenta se manter aquecido em um trenó durante uma noite fria de inverno.

A galeria também tem uma bela coleção de retratos: Vassíli Perov pintou dois dos maiores escritores da Rússia, Aleksander Ostrovski e Fiódor Dostoiévski, enquanto o portfólio de Ivan Kramskoi contém retratos de Lev Tolstói, do próprio Pável Tretiakov e do artista Ivan Chichkin, cujo trabalho também tem destaque no museu.

Algumas das imagens mais nítidas, que quase se parecem com fotografias, foram pintadas pelo grande artista do século 19 Iliá Repin. Os olhos furiosos da princesa Sophia Alekseievna, retratada por Repin, dão as boas-vindas aos visitantes em um dos salões. O artista pinta uma princesa raivosa, um ano depois de sua prisão no mosteiro Novodevirchi durante a execução de Streltsi, em 1698. Em outra obra-prima, Repin apresenta o olhar horrorizado de Nikolai Mirlikiski enquanto salva três inocentes condenados à morte. Repin também pintou retratos de Lev Tolstói e do compositor Aleksander Glazunov, embora seja mais conhecido por suas imagens grandiosas de eventos da vida real, como a “Procissão na província de Kursk”, supostamente concluída em 1891.

Porém, um dos quadros mais icônicos da galeria Tretiakov é o “Demônio”, de Mikhail Vrubel. A imagem do demônio sempre causou reações diferentes dos visitantes; sua imagem parece triste, pois carrega todo o peso e as lamúrias da Terra sobre seus ombros. As obras de Vrubel foram classificadas como parte do movimento simbolista da Rússia, mas ele fez questão de se distanciar das tendências da arte contemporânea, o que faz de suas obras peças únicas nesta galeria.

Todos os grandes artistas e escritores da Rússia prestaram homenagem especial às gloriosas estações e natureza do país. O “Outono Dourado”, de Isaak Levitan, captura a beleza dessa estação na Rússia, onde a cor predominante da folhagem é o amarelo ouro, e não o vermelho, como na América do Norte. A galeria também abriga outras obras-primas do pintor, que era conhecido por suas paisagens bucólicas, incluindo “Noite, Plyos de Ouro”, que mostra uma igreja ortodoxa branca à beira do rio. Poucas obras de arte capturam a essência, espiritualidade e simplicidade do verão russo durante o século 19 como esse trabalho de Levitan.

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