Liubímov exige a retirada de suas peças do teatro Taganka

Aos 95, Liubímov recusou o convite de trabalhar novamente para o Taganka Foto: Kommersant

Aos 95, Liubímov recusou o convite de trabalhar novamente para o Taganka Foto: Kommersant

O teatro Taganka, em Moscou, é palco de um novo escândalo estrelado pelo ex-diretor do teatro Iúri Liubímov, 95, que exigiu a retirada do repertório de oito peças dirigidas por ele. Entre elas, está “O Bom Homem de Sezuan, peça que é o cartão visita do teatro.

Liubímov chegou ao pouco notável teatro de Moscou há quase 50 anos. E com “O Bom Homem de Sezuan”, peça baseada na obra de Bertold Brecht, onde trabalhavam os alunos de Liubímov da Escola Vakhtangov, é que começou a glória e a fama do espaço. O elenco e o conceito mudaram, e o teatro assumiu um forte tom social, político e rebelde. Os experimentos formais de Liubímov despertaram na memória das pessoas os melhores exemplos do teatro de vanguarda dos anos 1930. O teatro, em seguida, mudou de nome. Passou a ser chamado pelo nome do bairro de Moscou em que estava localizado: Taganka. Durante décadas, foi um símbolo de protesto artístico contra a estagnação da era de Brejnev. Como resultado, em 1984, Liubímov foi expulso do país e só voltou cinco anos depois.

Virada do Taganka

1946

Fundação do Teatro de Drama e Comédia de Moscou na Taganka

Início dos anos 1960

Era um dos teatros menos visitados da capital 

1964

Iúri Liubímov assumiu o cargo do diretor-chefe e trouxe ao teatro atores renomados como Alla Demidova, Váleri Zolotukhin e Leonid Filatov

Ao longo de meio século, tudo mudou no teatro – o repertório, a estética, a seriedade das dramatizações –, mas uma coisa manteve-se inalterada, o seu diretor-chefe Iúri Liubímov. Para surpresa de todos, ele anunciou que iria sair do teatro em 2010, depois de um conflito com o elenco. Os atores, que naquela época estavam em turnê na República Tcheca, cobraram os seus honorários. Liubímov se ofendeu, considerou esse pedido como um sinal de desconfiança por parte do elenco e anunciou a sua renúncia. Mas Liubímov continuou a dirigir peças. 

Em 2012, foi aclamado pela crítica com a peça “Os Demônios”, baseada no romance de Fiódor Dostoévski, em cartaz no teatro Vakhtangov. Mesmo depois de passar por uma coma, Liubímov começou a produção da opera “Príncipe Igor”, de Aleksandr Borodin, que estreou no Bolshoi, após ser apresentada no canal estatal de televisão russo Cultura e no francês Mezzo.

No teatro Taganka, as peçam continuavam encenadas paralelamente. Váleri Zolotukhin, estrela de cinema e um dos patriarcas do Taganka, chegou ao teatro junto com Liubímov em 1964 e desempenhou um papel no primeiro elenco da famosa peça “O Bom Homem de Sezuan”. Sob Zolotukhin, que havia assumido sua posição, as peças receberam críticas moderadas, porém positivas. A morte de Zolotukhin neste ano deixou o teatro novamente sem líder, e o Departamento de Cultura de Moscou pediu para Liubímov voltar ao teatro. Ainda ofendido, o diretor resultou o convite e ainda exigiu que oito peças fossem retiradas do repertório – incluindo a famosa com “O Bom Homem de Sezuan”. Segundo Zolotukhin, sem a sua supervisão, os atores tinham se desviado do plano original.

Exílio e fama

O Teatro Taganka ganhou a reputação de mais progressista do país: não tinha cortina e quase nunca utilizava decoração, substituindo-a por estruturas cênicas. Além disso, teve frequentemente apresentações de mímica e teatro de sombras. Durante algumas delas, o diretor sentava-se na sala, manipulando uma lanterna tricolor para ajudar os atores com os textos e a manter a dinâmica da interpretação. Em 1984, Liubímov perdeu a cidadania soviética, depois da publicação de uma entrevista dada para Bryan Appleyard, do jornal “Times”, em que o diretor expressava a sua postura crítica sobre as políticas culturais na URSS. Com a revogação da cidadania, foi trabalhar em Israel, EUA, Reino Unido, Escandinávia, França, Itália e Alemanha. Em 1989, resgatou a sua cidadania soviética, e seu nome como diretor artístico voltou a aparecer em cartazes do Taganka.

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