Artista de rua russo recebe prêmio em feira de arte de Nova York

Na obra, as paredes de um hospital abandonado no centro de Ekaterinburgo que recebia feridos durante a guerra, ganharam reproduções dos rostos de soldados Foto: www.t-radya.com

Na obra, as paredes de um hospital abandonado no centro de Ekaterinburgo que recebia feridos durante a guerra, ganharam reproduções dos rostos de soldados Foto: www.t-radya.com

Timofei Rádia foi premiado na versão nova-iorquina de feira francesa conhecida por apresentar novos artistas.

O artista russo Timofei Rádia foi o vencedor da Cutlog Art Fair em Nova York, uma versão da feira francesa conhecida por apresentar novos artistas.

Nos EUA, Rádia apresentou uma versão diminuída de sua obra instalada em Ekaterinburgo, intitulada “Figura 1, Estabilidade”, montada com 40 escudos de plástico usados pela da polícia.

A composição original, um castelo gigante de cartas feito com 55 escudos e encimado por um trono, foi criada por Timofei  sua equipe em dezembro de 2012.

A pirâmide, que logo desmoronou, foi dedicada às manifestações na Praça Bolotnáia [em 2012, um protesto na véspera da posso do presidente Vladímir Pútin  terminou em confronto com a polícia e centenas de pessoas detidas em Moscou].

Segundo o artista, a obra representa a sua visão do poder moderno, que se baseia na força, mas, sob o efeito de alguma dificuldade pode ceder, “como um castelo de cartas”.

Timofei nasceu em Ekaterinburgo, nos Urais. Depois de formado na faculdade de filosofia, começou a dedicar-se à arte de rua.

“Estudando filosofia, você percebe que existem muitas coisas que são bastante simples, mas que são difíceis de manter na margem frontal da consciência. Estas podem ser ideias simples, mas importantes, que necessitam de uma forma apropriada. Na minha opinião, elas aparecem cheias de vida na rua, então é por isso que me ocupo com essas coisas. Além disso, me agrada que o processo da criação dos trabalhos é muito animado, exige esforço, apresenta um certo perigo, então você é constantemente alimentado e obrigado a refletir, por exemplo, sobre como as pessoas são constituídas, o que lhes interessa.”, disse Rádia ao “Look at me”.

Rádia ganhou fama na Rússia depois do seu trabalho “Ataque – Defenda-se”, feito em um prédio de Ekaterinburgo.

Na obra, as paredes de um hospital abandonado no centro de Ekaterinburgo que recebia feridos durante a guerra, ganharam reproduções dos rostos de soldados. As fotografias foram transferidas sobre uma base de ataduras de gaze, as diferentes espessuras das ataduras dando diferentes tons para o desenho. Em seguida, as ataduras foram incendiadas.

O edifício não ficou danificado. O projeto foi feito em 22 de junho, o dia do início da guerra.

“No final da montagem, chegou o homem responsável pelo edifício, conversamos com ele sobre o projeto, e ele decidiu não chamar a polícia”, conta Radia.

“A inscrição na parede é uma forma de comunicação antiga, eterna. Penso que há um clima geral que combina todas as inscrições em todos os momentos”, conta o artista.

Seus retratos de soldados, feitos a fogo, foram reconhecidos por mestres da arte de rua em todo o mundo: "Em nosso país, o Dia da Vitória [na Segunda Guerra] é um dos dias mais importantes. Para muitos, o mais importante. Estou convencido de que após a guerra, fica pior para todos; vencedores, perdedores, não existe diferença. Os números podem ser contados por muito tempo, mas as pessoas não retornam.”

“Eu me interesso por coisas simples: escrever algo na rua e ver a reação das pessoas. Aquilo que tem relação com a arte contemporânea e com espaços fechados tem um público limitado. Talvez a arte de rua não seja tão profunda e complexa, mas causa impacto onde existe alguma cultura e, portanto, pode ser muito mais importante do que as outras formas de arte”, completa o artista.

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