Um Segundo 11 de Setembro

Ilustração: Jean Jullien

Ilustração: Jean Jullien

Sem união, 'mundo civilizado' precisará admitir inferioridade a terroristas.

O movimento terrorista internacional demonstrou coordenação para executar uma série de ataques terroristas em grandes áreas metropolitanas e em locais públicos abarrotados em Paris na última sexta-feira (13).  Embora o porte de armas seja proibido no país, os terroristas utilizaram-se não apenas de explosivos, como de fuzis Kalashnikov.

Há pouco tempo, havia quem apontasse o dedo para os negligentes serviços de inteligência egípcios, que teriam permitido a instalação de artefatos explosivos a bordo do avião russo que caiu no país.

Hoje, porém, prova-se que o mais bem preparado dos governos é impotente perante tal ameaça.

Uma mudança para impedir esse tipo de situação é necessária em todas as esferas: social, política, econômica. Mas nem isso seria garantia de segurança.

O atual sistema internacional de relações econômicas e políticas não contribui, infelizmente, para a erradicação do terrorismo. Nem em países específicos – muitas vezes, aqueles que se tornaram vítimas da "importação da democracia" –, nem em uma escala global.

Enquanto o mundo inteiro se solidariza com os franceses, é preciso lembrar o apelo repetidamente ecoado pela união contra o terrorismo. Quantas vezes o clamor já foi feito desde 11 de setembro de 2001? E onde estão os resultados?

Aparentemente, a al-Qaeda foi derrotada e seu líder, morto. Mas, com a derrota, o terrorismo continua a brotar, com novas células e orientações ainda mais fanáticas e brutais.

O Oriente Médio foi virado de cabeça para baixo. Em seu lugar, surge um semi-Estado terrorista onde, segundo planos utópicos, a democracia eleitoral deveria ter substituído a tirania de sápatras seculares como Saddam Hussein e Bashar al-Assad.

O que esperar

Já era óbvio que ataques terroristas em grandes escalas se desenrolariam em breve na Europa. Primeiro, foi o avião russo - que muitos diziam ser a vingança "contra a aventura de Pútin na Síria".

Então, apenas um dia antes de Paris, ocorreu um ataque duplo em um bairro xiita de Beirute que matou dezenas de pessoas.

É evidente que, neste caso concreto, tratou-se de uma vingança do EI (Estado Islâmico) ou de estrutura similar contra o grupo xiita Hezbollah, que luta ao lado de Assad na Síria.

A comunidade internacional ficou balançada, mas a ressonância não foi, evidentemente, a mesma dos acontecimentos na França. Afinal, o que aconteceu foi "lá em Beirute", na periferia "do mundo civilizado".

E praticamente não houve ressonância global quando, um dia antes dos ataques terroristas em Paris, uma bomba explodiu em uma mesquita xiita no Iêmen.

Agora, mais uma vez, constata-se que todos nós vivemos na linha de frente da luta contra o terror. E se os extremistas usam a Síria como motivo para os ataques, já que a França se uniu recentemente à coalizão contra o EI, não significa que Londres, que ainda não tomou parte na campanha, esteja a salvo dos terroristas.

A primeira reação dos europeus, principalmente dos franceses, será o fechamento das fronteiras e o aumento de todas as medidas de segurança.

Acontecimento anunciado

Em recentes advertências relacionadas com o fluxo de refugiados do Oriente Médio chegou-se a dizer que, dentre o milhão de refugiados que chegaram à Europa haveria quase 25 mil combatentes.

O chefe da administração do Kremlin, Serguêi Ivanov, e o presidente Vladímir Pútin alertaram para o fato durante a sessão anual da ONU.

O 11 de setembro se repetiu. E todos aqueles que se consideram parte do mundo civilizado devem compreender onde falhamos nos últimos 15 anos do que foi intitulado de combate ao terror.

Mais do que isso, devemos criar novas formas de interação, mais especificamente, entre a Rússia e o Ocidente. Agora, mais que nunca, é premente a necessidade de se colocar de lado as diferenças – relativas à questão síria ou  à ucraniana, por incrível que pareça, já que essa provocou ums política de "dois pesos e duas medidas".

Senão, seremos obrigados a reconhecer que os terroristas fanáticos, apesar de tudo, levam uma grande vantagem sobre nós: agem de um modo muito mais coeso e unido que todo o chamado "mundo civilizado".

Geórgui Bovt é membro do Conselho para a Política Externa e de Defesa

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